- Nas entrelinhas | Correio Braziliense
“Bons resultados econômicos são um fator de estabilidade política, ao lado do comportamento responsável do Congresso, apesar do ambiente de radicalização ideológica”
Ultrapassando as expectativas, o PIB brasileiro cresceu 0,6% no 3º trimestre. Na comparação com o mesmo período de 2018, o salto foi de 1,2%. Com isso, chegou a R$ 1,842 trilhão. Segundo o IBGE, agropecuária (+1,3%), indústria ( 0,8%), principalmente, a construção civil, e serviços (0,4%) lideraram a expansão da economia. O consumo das famílias cresceu 0,8% e o investimento, 2%. A queda de 0,4% das despesas de consumo do governo completam o cenário, o que levou a uma reavaliação da projeção do PIB para 2019. No acumulado do ano até setembro, o PIB cresceu 1%. Com isso, já se projeta um PIB de 1,2% neste ano.
O presidente Jair Bolsonaro comemorou o resultado, e os analistas do mercado financeiro reiteraram a avaliação corrente de que a economia vai no rumo correto, apesar dos problemas. O PIB ainda está 3,6% abaixo do pico da série, atingido no primeiro trimestre de 2014. O resultado mantém a economia brasileira em patamar semelhante ao que se encontrava no 3º trimestre de 2012. Mesmo assim, fortaleceu a equipe econômica e possibilita a Bolsonaro construir uma narrativa de retomada do crescimento no primeiro ano de seu governo, cujo desempenho ainda deixa a desejar em termos de resultados econômicos.
O aumento do consumo das famílias talvez seja o indicador mais importante, porque estancou a queda de popularidade de Bolsonaro, apesar do desgaste político causado pela radicalização ideológica que vem impondo ao cenário político nacional. Esse consumo está numa linha ascendente: acelerou para uma alta de 0,8%, após um avanço de 0,6% no 1º trimestre e de 0,2% no 2º trimestre, representando o principal destaque positivo do PIB no período.
A polícia monetária e ações específicas do governo com objetivo de ampliar a circulação da moeda foram determinantes: queda da taxa básica de juros (Selic), inflação baixa, expansão do crédito e saques do FGTS (vão injetar até o final do ano cerca de R$ 30 bilhões na economia). Outra variável decisiva foi a recuperação do mercado de trabalho, liderada pela informalidade. As mudanças na legislação trabalhista, apesar da “precarizaçao” do trabalho, aumentaram a massa salarial e o número de ocupados com alguma renda.
No final do ano, esses bons resultados econômicos são um fator de estabilidade política, ao lado do comportamento responsável do Congresso, apesar do ambiente de radicalização ideológica patrocinada pelo próprio presidente Bolsonaro, que aposta no confronto com o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para coesionar sua base eleitoral. Entretanto, a discussão das reformas no Congresso ficaram em segundo plano, o que representa um desperdício de oportunidade neste final de ano. Esse atraso na aprovação das reformas gera insegurança jurídica e atrapalha os investimentos.
Resultado medíocre
Uma outra informação importante divulgada, ontem, foi o relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com os resultados da versão de 2018 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). O exame abrange provas de leitura, matemática e ciências — ocorre a cada três anos — e testou cerca de 600 mil estudantes de 15 anos em 79 países. Portugal e China foram os destaques mais positivos; o Brasil apresentou, estatisticamente, uma melhora ridícula.
Na prova de leitura, os brasileiros tiveram, em média, 413 pontos. O resultado coloca o Brasil em 57º lugar dentre 78 economias avaliadas, à frente da Colômbia (412), da Argentina (402) e do Peru (401), mas muito atrás dos 487 pontos de média da OCDE. Em ciências, a média brasileira foi de 404 pontos, o 66º lugar no ranking da disciplina. Já em matemática, a média dos alunos brasileiros foi de 384 pontos, enquanto a média dos países desenvolvidos é de 489 pontos. Essa foi a pior nota brasileira, que coloca o Brasil em 70º lugar no ranking de matemática, dentre 78 países, atrás dos vizinhos Chile (417), Peru (400) e Colômbia (391).
Numa escala de seis níveis para classificar o desempenho dos estudantes de 15 e 16 anos nas provas de leitura, matemática e ciências, o nível 1 é considerado insuficiente, e o nível 2 é o mínimo de proficiência. No Pisa 2018, 50% dos brasileiros não atingiram o nível 2 em leitura, ou seja, são incapazes de identificar a ideia geral de um texto, encontrar informações explícitas ou analisar a finalidade daquele material. De acordo com o estudo, 43% dos jovens do Brasil não atingiram o nível mínimo em leitura, nem em matemática nem em ciências.
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