Irmão de senador baleado afirma que policiais em greve se sentem amparados pelo daiscurso do presidente e critica anistias a motins do passado
Sérgio Roxo | O Globo
RIO — Mais novo do clã de políticos cearenses, Ivo Gomes, de 52 anos, é prefeito de Sobral, cidade onde seu irmão Cid foi baleado na última quarta-feira. Para ele, os policiais queriam desmoralizar a gestão do município, que foi comandada pelo próprio Cid entre 1997 e 2005 e por seu pai, José Euclides, na década de 1970.
Ivo também diz que policiais se sentem amparados pelo que chama de discurso beligerante do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele responsabiliza ainda o Congresso Nacional por anistiar participantes de outras greves.
• Qual a situação hoje em Sobral depois de toda a confusão de quarta-feira?
A cidade está tranquila justamente por causa da confusão. Se não tivesse a confusão, sabe Deus o que estaria acontecendo.
• O senhor atribuiu isso à atitude de seu irmão Cid Gomes de usar um trator contra os manifestantes?
Não interessa se foi com trator, sem trator, com megafone. O importante é que ele foi lá para retomar uma rua que estava ocupada por bandidos armados.
• O policiamento está funcionando normalmente?
Normalmente não porque alguns policiais ainda não compareceram ao trabalho, mas tem muitos policiais nas ruas. A cidade acordou aliviada depois de parecer que era um Afeganistão sendo tomado pelo Talibã, com cenas dantescas.
• Como o senhor soube que o seu irmão havia sido baleado?
Eu estava em São Paulo. No meio do caminho para o aeroporto, soube.
• Para o senhor, qual é o objetivo da paralisação dos policiais?
Queriam desmoralizar Sobral. São os fascistas querendo ganhar espaço. Só não esperavam que o Cid tivesse a coragem que teve de fazer o enfrentamento.
• Muita gente criticou a atitude do seu irmão.
As coisas são assim no Brasil. Quando a mulher é estuprada, a culpa é dela porque ela estava com uma roupa curta, estava se assanhando. Quem sofre tentativa de homicídio nunca é o culpado por nada, assim como a mulher que é estuprada é a única que não tem culpa.
• Mas ele colocou a vida das pessoas em risco.
Não, em nenhum momento ele avançou sobre pessoas. Ele avançou para remover as barricadas.
• Aquele trator é da prefeitura?
Não é da prefeitura, não. Não tenho a menor ideia de quem é.
• O seu irmão Ciro Gomes acredita que os policiais grevistas são influenciados pela postura do governo. O senhor concorda?
Não é a primeira vez que isso acontece. E aconteceu em muitos estados do Brasil. Milicianos encapuzados em todos esses movimentos foram identificados, punidos e processados, mas o Congresso reiteradas vezes os anistiou, inclusive com a sanção da Dilma Rousseff. A origem do crime, como qualquer crime, é a impunidade. Os líderes são todos bolsonaristas assumidos. Fizeram campanha e estão aqui trabalhando pelo partido do Bolsonaro. Agora, se sentem mais do que nunca amparados pelo discurso beligerante do Bolsonaro, pela defesa das milícias, pela relação que ele tem com as milícias no Rio.
• Mas quem são as principais lideranças?
A principal liderança do movimento é candidato a prefeito de Fortaleza, que é um capitão deputado federal (Capitão Wagner, do Pros). O mesmo que liderou o motim oito anos atrás. Todos se sentem autorizados a fazer o que querem porque o presidente não emite um sinal de que é contra.
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