Fala do ministro contra o Congresso não foi bem recebida no Congresso. 'Ele virou um radical ideológico contra a democracia', disse o presidente da Câmara
Amanda Almeida, Bruno Góes, Naira Trindade, Natália Portinari e Isabella Macedo | O Globo
BRASÍLIA — Além do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que acusou o ministroAugusto Heleno de ter virado um 'radical ideológico contra a democracia', outros parlamentares reagiram, nesta quarta-feira, à declaração do chefe do Gabinete de Segurança Pública (GSI) do governo Bolsonaro de que o governo não deve ceder às "chantagens" do Congresso. O embate é a respeito do controle da ordem de execução de R$ 46 bilhões em emendas parlamentares — um acordo devolvia ao governo a gerência sobre R$ 10,5 bilhões. No Planalto, porém, há resistência em cumprir o combinado com deputados e senadores.
— Parece que a perda de compostura, a falta de noção da importância do cargo está se espalhando por todo o governo, contaminou todo o governo. Está se tornando um governo que tem como característica falta de compostura e de noção da dignidade do cargo — diz o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Para ele, Heleno tem de ser convocado para se explicar ao Congresso:
— Claro. As coisas estão passando do limite.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse que o partido tentará convocar Heleno.
"General Heleno, pode dar murro na mesa, falar palavrão, espernear. Mas terá de se explicar, conforme manda a Constituição, ao Congresso que tanto despreza. Será convocado", anunciou no Twitter.
O acordo entre Executivo e Congresso manteria vetado um trecho que explicita a punição ao gestor que não seguir a ordem de liberação de emendas imposta pelo Parlamento, mas devolveria aos parlamentares o controle sobre mais de R$ 30 bilhões. A votação não ocorreu, porém, por divergências quanto ao texto final de um projeto de lei que deveria ser enviado pelo Executivo para selar o acordo.
Além disso, um grupo de senadores foi contrário ao acordo e defendeu que o governo deveria definir a execução de todas as emendas parlamentares, e não só uma parte delas.
O líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ironizou a suposta iniciativa do Congresso em fazer um acordo:
— A carapuça não serviu para mim. Nesse tema, eu tenho apoiado o presidente, mesmo o presidente sendo o Bolsonaro. Nós obstruímos e derrubamos, enquanto os bolsonaristas ficaram quietos e o próprio general Heleno chancelou acordo do Bolsonaro com os presidentes da Casa a favor da derrubada do veto. Talvez, tivesse que servir para o próprio presidente da República porque foi ele quem fez acordo com os presidentes da Casa.
Randolfe, no entanto, pondera que, talvez, não seja estratégico convocar Heleno:
— Não estou a fim de dar picadeiro para palhaço. Aqui não é circo.
Líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP) escreveu nas redes sociais que "desatinos verbais só tumultuam o ambiente político e atrapalham o andamento das reformas".
"Já passou da hora de parar de produzir crises desnecessárias e concentrar os esforços na aprovação das reformas tributária e administrativa", disse o tucano.
Primeiro vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP) reforçou as críticas às declarações do ministro Augusto Heleno de que o governo precisa enfrentar a 'chantagem' do Congresso em relação aos vetos da Lei de Diretrizes Orçamentárias e considerou a fala como "desrespeitosa".
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