quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Maia sobre Heleno: ministro virou um 'radical ideológico contra a democracia'

Presidente da Câmara ironiza que Chefe do GSI não reclamou quando Congresso aprovou o aumento de salário dele; presidente do Senado diz que nenhum ataque à democracia será tolerado

Isabella Macedo e Amanda Almeida | O Globo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu na manhã desta quarta-feira à sugestão feita pelo ministro Augusto Heleno ao presidente Jair Bolsonaro, de enfrentar o que chamou de 'chantagem' do Congresso em relação aos vetos da Lei de Diretrizes Orçamentárias, que ainda precisam ser analisadas pelos parlamentares. Ao chegar à Câmara, Maia afirmou que a postura do ministro é "triste" e que ele se comporta como um adolescente ao agredir o Parlamento.

Mais tarde, foi a vez do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, criticar a declaração captada por uma transmissão ao vivo nas redes sociais de Bolsonaro.
- Nenhum ataque à democracia será tolerado pelo Parlamento. O momento mais do que nunca é de defesa da democracia, independência e harmonia dos Poderes para trabalhar pelo país - disse Alcolumbre.

Durante a reunião ministerial com Bolsonaro nesta terça-feira, Heleno chegou a bater na mesa afirmando que Bolsonaro precisava "convocar o povo às ruas" e não ceder “às chantagens” do Congresso. Bolsonaro, porém, pediu cautela e aconselhou a articulação política a costurar novo acordo.

Maia comentou hoje:

- Geralmente, na vida, quando a gente vai ficando mais velho, a gente vai ganhando equilíbrio, experiência e paciência. O ministro, pelo jeito, está ficando mais velho e está falando como um jovem, um estudante no auge da sua juventude. É uma pena que o ministro com tantos títulos tenha se transformado num radical ideológico contra a democracia, contra o Parlamento. Muito triste. Não vi por parte dele nenhum tipo de ataque quando a gente estava votando o aumento do salário dele como militar da reserva - afirmou o presidente da Câmara.

Maia também afirmou que a postura do ministro ultimamente em relação ao Parlamento seria melhor aproveitada em um "gabinete de rede social, tuitando, agredindo, como muitos têm feito".

- Não é a primeira vez que ele ataca, mas dessa vez veio a público. É uma pena. Todos nós sabemos da competência dele na carreira militar. É uma pena que ele considere a relação com um Parlamento que tanto tem produzido para o Brasil, muitas vezes em conjunto com o governo, principalmente com a equipe econômica, como um Parlamento que quer chantagear. Muito pelo contrário. Esse Parlamento se quisesse apenas deixar as pautas correrem soltas, o governo não ganhava nada aqui dentro. Tudo é feito por responsabilidade com o Brasil - concluiu Maia.

Diante dos comentários de Heleno em rede social, o presidente da Câmara rebateu:"(Heleno) não entende nada de sistema democrático presidencialista", afirmou, ao GLOBO. "Mande ele olhar Estados Unidos", acrescentou.

A discussão continuou durante a reunião ministerial no Alvorada. Segundo fontes, foi questionada a responsabilidade do texto que beneficia os parlamentares. O acordo sobre as emendas foi anunciado pelo ministro Ramos junto com Maia e Alcolumbre (DEM-AP).

Ele incluía o envio pelo Executivo de um projeto de lei alterando o Orçamento para tornar R$ 10,5 bilhões que estavam carimbados como “emenda do relator” em verbas disponíveis aos ministérios. Assim, sobrariam R$ 31 bilhões em emendas parlamentares, se o veto cair. Caberia ao Ministério da Economia enviar este projeto, o que ainda não ocorreu.

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