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Um presidente eleito para destruir
No último domingo, dia 15, enquanto Jair Bolsonaro desrespeitava a ordem médica de manter-se isolado, confraternizava com seus devotos à porta do Palácio do Planalto e fazia contato físico com 272 deles, o presidente Donald Trump, a quem ele reverencia e tenta imitar, ainda recomendava aos norte-americanos que relaxassem e garantia que o seu governo estava fazendo o melhor para deter a pandemia de coronavírus.
Menos de 24 horas depois, Trump admitiu que as medidas adotadas contra a doença poderão se prolongar até o segundo semestre, e reconheceu: “O vírus não está sob controle em nenhum lugar do mundo”. Recomendou evitar reuniões com mais de 10 pessoas e pediu que os idosos fiquem em casa. São Francisco, na Califórnia, se tornou a primeira cidade americana a proibir que todos os cidadãos saiam de casa a partir de hoje.
Emmanuel Macron, presidente francês, anunciou a proibição de entrada no seu país de quem chegar de fora da União Europeia. A partir de hoje, e pelo menos por 15 dias, os franceses não poderão sair de suas casas. Cem mil policiais patrulharão as ruas. O número de casos de coronavírus tem dobrado a cada três dias na França. Macron usou a expressão “guerra” meia dúzia de vezes para se referir ao combate ao “inimigo invisível”.
O que se ouviu Bolsonaro dizer por aqui foi que tudo não passa de uma “histeria”. Provocado a respeito do seu comportamento no domingo, exasperou-se e retrucou: “Se eu me contaminei isso é responsabilidade minha. Ninguém tem nada a ver com isso”. De fato, terá sido sua, unicamente sua a escolha de se contaminar. O problema é que ele pode ter contaminado muita gente ao seu redor, embora isso não pareça preocupá-lo nem um pouco.
Bolsonaro deveria ter participado, ontem, de duas reuniões importantes. Uma, com os presidentes dos países da América do Sul por meio de teleconferência. Na pauta, a doença que assombra o mundo. A segunda, com os presidentes do Supremo Tribunal Federal, da Câmara dos Deputados e do Senado. Na pauta, o mesmo assunto, e ações integradas que poderiam ser executadas pelos três poderes da República. Bolsonaro faltou às duas.
O mais inacreditável foi saber que ele pressionou o ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, para que negasse ajuda aos governadores João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PDC), do Rio de Janeiro, os dois maiores Estados do país e os mais atingidos até agora pela doença. Bolsonaro trata Doria e Witzel como inimigos políticos. E a inimigos, segundo entende, nada deve ser concedido. Nem mesmo uma trégua.
Seria perda de tempo sugerir a Bolsonaro que lesse a Bíblia para ver “as consequências invariáveis decorrentes do ódio”. Ele detesta ler. Livro tem muita letra. Mas Bolsonaro poderia reler o trecho da carta que lhe enviou seu ex-ministro Gustavo Bebbiano onde está dito: “O senhor cultiva e alimenta teorias de conspiração, intrigas e ódio, e ensinou seus filhos a fazerem o mesmo. […] O ódio é uma energia terrível e incontrolável que tudo destrói”.
Hoje, Bolsonaro se submeterá a um novo exame. Subiu para 14 o número de pessoas que estiveram com ele durante sua recente viagem aos Estados Unidos e que apresentaram resultado positivo para a Covid-19. Se Bolsonato estiver infectado, ficará sujeito a uma quarentena como as demais vítimas da doença. O que significa… O que no caso dele não dá para dizer o que significa. Significaria um golpe branco? Uma prisão forçada?
A mente de um paranoico é fértil, confusa e difícil de decifrar. Se afastado do poder temporariamente, Bolsonaro ainda assim disporá de um celular para libertar seus demônios e infernizar a vida alheia no momento em que o país mais clama por uma condução firme, segura e responsável. Com ou sem o coronavírus, Bolsonaro continuará até o fim a fazer mal ao país. Esse é o seu destino e a nossa punição.
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