- Folha de S. Paulo
Federação brasileira passa por um imenso teste de estresse
Um boneco sem cabeça, puxado por pernas e braços por várias crianças para diferentes lados. Eis o Brasil do coronavírus. Nossa federação, que já nasceu grande e sobreviveu a poucas e boas, passa por um imenso teste de estresse.
Na origem do problema, um presidente isolado, que leva à TV muita bile e pouco bom senso. Que esmerilha no cinismo ao dizer que resgatou “nossos irmãos em Wuhan” —aqueles que antes ele não queria buscar porque “custa caro”. Jair Bolsonaro ainda convence alguns, mas são cada vez menos numerosos.
O vazio de liderança acabou ocupado pelos governadores. O coronavírus foi mágico. As 27 unidades da federação, que há décadas não se entendem sobre quase nada, de uma hora para outra começaram a fazer as mesmas coisas.
O ministro Luiz Henrique Mandetta resolveu ser demolidor de obra pronta. Agora acha que as quarentenas foram iniciadas cedo demais. Alinhando-se com fé ao chefe, critica o fechamento de igrejas: “Rezem, só não se aglomerem”.
Os líderes do Congresso passam o tempo fazendo cálculo sobre como reagir ao que sai do Alvorada —mas tomar as rédeas que é bom, nada. O presidente da Câmara teve sua própria conversão; descobriu que os integrantes da Faria Lima se preocupam mais com o dinheiro do que com as pessoas.
Isso para ficar na parte visível da história. Pelo vasto território brasileiro, prefeitos dos 5.570 municípios passaram a exercer a torto e não propriamente a direito um poder imenso, o de limitar quem pode e quem não pode circular pelas cidades, em ações sujeitas a frágeis mecanismos de controle.
Como se fosse pouca a bagunça, ainda tem o vice-presidente da República. “A posição do nosso governo por enquanto é uma só: isolamento e distanciamento social”, diz. Não seria difícil demonstrar que aqui existe tudo menos “uma só”. Mas tampouco é preciso o esforço: Mourão se trai sozinho com o “por enquanto”.
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