- Folha de S. Paulo
Não há nada mais perigoso do que um ignorante que se acha inteligente
Foi-se o tempo em que Jair Bolsonaro dizia não entender de assuntos estratégicos do governo e que teria um ministério formado por especialistas capazes de tomar medidas técnicas. Sabemos, já há algum tempo, que era fachada. Depois da posse, o presidente desautorizou seu estafe, inclusive seus superministros Guedes e Moro, em diversas ocasiões, optando por caminhos puramente ideológicos.
A novidade é que ele nem disfarça que segue os conselhos que recebe da ala radical do governo, sem consultar ministros, sempre ao sabor do seu humor. E isso ficou evidente em seu pronunciamento aloprado, que contrariou Henrique Mandetta, o titular da Saúde, e tudo o que manda o bom senso no momento. Com exceção de seu núcleo duro de apoiadores, o restante do país acompanhou estupefato o rosário de mentiras, de distorções, de achismos e de irresponsabilidades. O mais assustador é que ele parecia confortável, muito satisfeito com a mensagem que tinha para dar e seguro ao dizer tanta besteira em rede nacional.
Não há nada mais perigoso do que um ignorante que se acha inteligente. E Bolsonaro, ao que demonstra, se acha mais esperto do que todos. Mais esperto do que a OMS, do que os líderes de governos que já passaram pelo estágio em que o Brasil se encontra nesta pandemia, do que a maioria dos governadores. Age como se tivesse a solução para todas as perguntas que continuam até agora sem resposta.
Deve se achar inclusive mais esperto do que Donald Trump. O presidente americano anunciou na tarde de terça (24) que avalia a situação, e a quarentena pode acabar na primeira quinzena de abril. Jair, que deve se achar muito perspicaz e bem assessorado, não entendeu nada, foi à televisão, meteu um truco e disse “devemos voltar à normalidade”. E já.
Ou Bolsonaro é mesmo um gênio, e muitos de nós não entenderam isso, ou estamos perdidos.
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