- Folha de S. Paulo
Apesar dos absurdos que já fez e disse, Bolsonaro tem apoio de um terço do eleitorado
Jair Bolsonaro disse e fez absurdos durante a epidemia de Covid-19, traiu algumas de suas principais bandeiras de campanha e, apesar disso, segue com o apoio de cerca de um terço do eleitorado, como mostrou pesquisa Datafolha.
Sei que vão me xingar por dizer isso, mas o paralelo com os petistas é inevitável. Lula também conservou o apoio de mais ou menos outro terço do eleitorado. Nem entro no mérito jurídico da sentença que condenou o ex-presidente, mas, no mínimo, o fato de ter tolerado altos níveis de corrupção e estabelecido relações pessoais absolutamente promíscuas com empreiteiros configura um desastre ético que contraria tudo o que o PT sempre defendera.
O que acontece com o cérebro do militante político, que parece perder a capacidade de ver o óbvio? O jornalista Ezra Klein, autor de "Why We´re Polarized", oferece uma boa resposta a esse enigma. Ele obviamente não fala nada de bolsonaristas e petistas, mas recorre à literatura psicológica e da ciência política para esmiuçar as mentes de democratas e republicanos. Com as devidas adaptações, muitas de suas conclusões valem para o Brasil.
O mais surpreendente é constatar que não há nada de irracional no comportamento desses eleitores. Eles apenas decidiram colocar suas identidades políticas à frente de outros valores que possam alimentar. Na esfera individual, faz sentido. Quem age dessa forma reforça os vínculos sociais que tem com seu grupo, o que é fonte de satisfação pessoal.
O problema é que, no plano coletivo, essa supervalorização da identidade de grupo leva à polarização, que raramente é saudável para a política, e mesmo a posições claramente disfuncionais, como o apoio acrítico a líderes populistas que colocam sua agenda pessoal à frente dos interesses do país. Não há reparo simples para essa dinâmica, que vem colocando sob estresse algumas das mais sólidas democracias do planeta.
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