- O Estado de S.Paulo
Os americanos exigem uma liderança constante, empática e unificadora, diz candidato democrata à presidência dos EUA
Até o momento, o coronavírus matou mais de 79 mil americanos. Um em cada cinco trabalhadores entrou com pedido de seguro-desemprego – a taxa de desocupação agora é a mais alta desde a Grande Depressão. É um momento extraordinário – do tipo que exige uma liderança constante, empática e unificadora.
Mas, em vez de unificar o país para acelerar nossa resposta à crise de saúde pública e obter alívio econômico para quem precisa, o presidente Donald Trump recorre a uma estratégia familiar de desviar a culpa e dividir os americanos. Seu objetivo é tão óbvio quanto covarde: ele espera apartar o país em um duelo, classificando os democratas como mercadores do pessimismo, que querem manter os EUA na lona, e os republicanos como combatentes da liberdade, tentando alavancar a economia.
É uma tática infantil – e uma falsa escolha na qual nenhum de nós deve cair. Todo mundo quer que os EUA retomem suas atividades o mais rápido possível – alegar o contrário é completamente absurdo. Governadores de ambos os partidos estão fazendo o possível para que isso aconteça, mas seus esforços foram reduzidos e dificultados porque não receberam do governo federal as ferramentas, os recursos e as orientações que precisam para reabrir com segurança e sustentabilidade. Essa responsabilidade recai sobre os ombros de Trump, mas ele não está preparado para a tarefa.
Faz mais de dois meses desde que Trump afirmou que “qualquer pessoa que queira fazer um teste poderá fazê-lo”. Foi uma mentira e ainda não é nem remotamente uma verdade. Se quisermos ter locais de trabalho, restaurantes, lojas e parques seguros, precisamos de testes em massa. Parece que Trump não pode fornecê-los – para não falar de protocolos de segurança do trabalhador, diretrizes de saúde consistentes ou liderança clara para coordenar uma reabertura responsável.
Além de abandonar os testes, ele parece ter esquecido que a nossa economia é orientada pela demanda – você pode gritar bem alto que estamos abertos para negócios, mas a atividade não voltará à força total se o número de novos os casos ainda estiver subindo ou atingindo o platô e as pessoas não acreditarem que seja seguro voltar a trabalhar. Sem medidas para impedir a propagação do vírus, muitos americanos não vão querer fazer compras, comer em restaurantes ou viajar.
O governador da Geórgia, Brian Kemp, começou a “reabrir” os restaurantes de seu Estado. Segundo dados do serviço de reservas OpenTable, mesmo assim, havia 92% menos clientes do que no mesmo dia um ano atrás. Estados e cidades que tentaram retomar as atividades estão descobrindo que a economia não é um interruptor de luz que você pode simplesmente ligar – as pessoas precisam de confiança para fazê-la funcionar.
Mais uma vez, a solução não é um mistério. O governo Trump poderia se concentrar na produção e distribuição de testes e protocolos adequados, em conformidade com a orientação de especialistas em saúde pública. Isso acelera consideravelmente o processo de reabertura e o torna muito mais eficaz.
O governo está plenamente consciente de que este é o caminho certo também – afinal, o presidente e sua equipe estão agora recebendo testes diários. Eles sabiam exatamente como tornar o Salão Oval da Casa Branca um local seguro e operacional, e empenharam-se em fazê-lo. Mas, com relação ao restante do país, eles simplesmente não tiveram o mesmo trabalho.
Se Trump e sua equipe entendem o quão crítico são os testes para sua segurança – e parecem que sabem disso, dado o comportamento da Casa Branca –, por que insistem que eles são desnecessários para o povo americano? E por que o presidente tenta transformar isso em outra forma de divisão, colocando americanos em uma falsa batalha entre “saúde” e “economia”?
Todo mundo sabe que não podemos reviver a economia a menos que salvaguardemos a saúde. Em vez de mais uma vez tentar nos dividir, Trump deveria trabalhar para darr aos americanos as mesmas proteções necessárias que ele obteve para si mesmo. É a coisa certa a fazer e o único caminho para realmente colocar a economia de volta nos trilhos.
* Foi vice-presidente dos EUA e é candidato democrata à presidência
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