- O Globo
A mando de Bolsonaro, a AGU tenta esconder seu exame de coronavírus e a fita de uma reunião explosiva. Agora o STF pode fazer valer o versículo que ele adora citar
Desde a campanha, Jair Bolsonaro martela uma passagem do Novo Testamento: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32). O presidente levou pouco tempo para mostrar que não leva o versículo a sério. Agora ele usa a Advocacia-Geral da União para travar uma guerra contra a transparência.
A mando de Bolsonaro, a AGU tenta esconder os exames que atestam se ele contraiu ou não o coronavírus. O capitão já havia perdido em duas instâncias judiciais. Na sexta-feira, foi salvo por uma canetada do presidente do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio de Noronha.
O ministro opinou sobre o caso antes de julgá-lo. Mesmo assim, ignorou pedido do jornal “O Estado de S. Paulo” e não quis se declarar impedido. Não seria o único motivo para isso. Em discurso recente, Bolsonaro se referiu a ele como “um amor à primeira vista”.
Ontem o “Valor Econômico” revelou que uma articulação do governo incluiu na pauta da Câmara projeto que cria um tribunal federal em Minas Gerais. O autor da ideia é o ministro Noronha, mineiro de Três Corações. O amor e a vida são feitos de coincidências.
Em outra frente, Bolsonaro tenta manter em sigilo o teor da reunião ministerial de 22 de abril. O encontro foi citado por Sergio Moro como prova de interferência indevida na Polícia Federal. A AGU já apresentou três recursos para barrar a entrega e a divulgação do vídeo.
A ameaça relatada por Moro não é o único trecho explosivo da fita. Segundo participantes da reunião, o presidente atacou uma nota da Polícia Rodoviária Federal que lamentava a morte de um agente pela Covid-19.
Ainda de acordo com os relatos, o chanceler Ernesto Araújo teria feito novos ataques à China. E Abraham Weintraub, o ministro sem educação, teria xingado as mães dos onze juízes do Supremo. Tudo poderá ser esclarecido se o ministro Celso de Mello liberar a divulgação do vídeo, que será exibido hoje em sessão reservada.
Na semana passada, o decano lembrou que “os estatutos do poder, em uma república fundada em bases democráticas, não podem privilegiar o mistério nem legitimar o culto ao sigilo”. Agora ele pode apresentar ao público as verdades que Bolsonaro tenta esconder.
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