- Folha de S. Paulo
Ausências de Lula e de Moro dos manifestos podem ter efeitos muito diferentes
No mês decisivo da campanha eleitoral de 2002, The Economist estampou a capa “The meaning of Lula” (o significado de Lula). No editorial, lia-se: “A primeira coisa a dizer é que a vitória será um triunfo para a democracia brasileira”.
A revista estava certa, e isso independia, como ela mesmo prova, de concordar com Lula. Ele foi eleito e reeleito, deixou o governo com 83% de aprovação e fez a sucessora.
Mas o petista envelheceu muito mal. Foi preso por corrupção e tentou sem sucesso rasgar a Lei da Ficha Limpa, assinada há exatos dez anos por ele mesmo. O interesse pessoal de seus cálculos políticos mais e mais salta aos olhos.
Recusou-se a aderir ao manifesto da oposição por impeachment, executando gesto isolado três semanas depois. A seguir escorregou na língua ao exaltar o coronavírus. Agora recusa-se a apoiar os movimentos que brotam na sociedade.
O comando do PT quer se aliar só a quem acha que Lula foi um preso político, não um político preso. Parece não haver tanta gente assim disposta a mudar de opinião sobre a Lava Jato para ter o rebanho lulista do lado. Na última vez que o Datafolha perguntou a opinião dos brasileiros, no fim do ano passado, já após a Vaza Jato, o resultado foi de apoio esmagador: 81% queriam que a operação continuasse.
Na mesma pesquisa, o instituto comparou algumas figuras públicas. A que teve o maior índice de alta confiança foi o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, com 33%. Lula ficou em 30%. Por isso, soa inacreditável que uma parte dos integrantes dos movimentos nascentes na sociedade diga não aceitar o ex-ministro Moro entre os signatários.
Os 14 anos do PT deixaram obviamente muitos legados, bons e ruins. Entre os últimos, um país profundamente dividido e intolerante. Nesse sentido, a ausência de Lula pode até acabar fazendo bem aos manifestos. Já a ausência da direita que navega com Moro é capaz de ferir de morte tais movimentos.
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