- O Globo
Demorou seis anos, mas aconteceu. Na sexta-feira, a Lava-Jato denunciou o primeiro figurão do PSDB de São Paulo. O senador José Serra foi acusado de receber propina da Odebrecht durante as obras do Rodoanel. Os repasses somaram R$ 191 milhões em valores atualizados, informou o Ministério Público Federal.
Os procuradores dizem ter identificado crimes de corrupção, fraude a licitação e formação de cartel. Como a investigação andou a passo de tartaruga, a maior parte das acusações prescreveu. Mesmo assim, Serra e a filha Verônica foram denunciados por lavagem de dinheiro transnacional.
Também na sexta, a Polícia Federal fez buscas em endereços do senador e do ex-deputado Ronaldo Cezar Coelho, que já admitiu ter recebido caixa dois na Suíça. A operação recebeu o nome de Revoada. Homenagem singela ao tucano, símbolo do partido que governou o país entre 1995 e 2002.
Ex-prefeito, ex-governador e ex-ministro, Serra foi quase tudo, menos o que sempre quis ser. Chegou ao segundo turno de duas eleições presidenciais, mas foi derrotado por Lula e Dilma Rousseff. Sua derrocada abre um novo capítulo na história de declínio do PSDB. O partido passou incólume pela Lava-Jato enquanto pontificava na oposição. Consumado o impeachment, viu sua blindagem desmoronar.
Candidato ao Planalto em 2014, Aécio Neves escapou por pouco da cadeia. Os ex-governadores Beto Richa e Marconi Perillo não tiveram a mesma sorte. Até Eduardo Azeredo, precursor do valerioduto, acabou em cana. Ele havia se tornado um símbolo da impunidade: denunciado por crimes na campanha de 1998, conseguiu adiar por duas décadas o encontro com o xadrez.
Os escândalos derreteram a imagem da sigla que liderava o coro contra os desmandos do PT. Desiludido, o eleitor que confiou na pureza dos tucanos bateu asas e pousou no ombro de Jair Bolsonaro. Em 2018, Geraldo Alckmin teve míseros 4% dos votos. Foi o pior resultado do PSDB em oito corridas presidenciais.
Depois do massacre nas urnas, o que restou do partido caiu no colo de um preposto de João Doria. O governador de São Paulo sonha com o Planalto, mas esbarra na pecha de elitista. Há dois dias, sua mulher disse que não se deve doar marmita aos desabrigados porque eles “gostam de ficar na rua” e precisam “se conscientizar”.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não disfarça a antipatia pelo casal. Prefere inflar o balão de Luciano Huck, animador de auditório e aspirante a salvador da pátria.
O PSDB de Doria tem pouco a ver com o partido social-democrata de Covas, Montoro e FH. Para marcar a guinada à direita, o governador mudou até o logotipo da sigla. Saiu o tucano e entrou a bandeira verde e amarela, emblema dos seguidores do capitão. Ele ainda franqueou a legenda a dissidentes do bolsonarismo, como o deputado Alexandre Frota e o empresário Paulo Marinho.
Em 2022, essa turma enfrentará uma raia congestionada. Apesar de todos os pesares, a direita brucutu se mantém fiel ao Mito. Correndo por fora, o ex-juiz Sergio Moro ameaça dividir ainda mais o campo conservador.
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