Ao nomear Pazuello, um general da ativa, para a Saúde numa epidemia, Bolsonaro desconsiderou este perigo
Se o presidente Bolsonaro não tivesse decidido nomear um general especializado em logística ministro “interino” da Saúde, cargo indicado a médicos ou a outros especialistas na área, não ocorreria, por óbvio, o incidente do comentário mal formulado pelo ministro do STF Gilmar Mendes sobre os riscos que a imagem do Exército enfrenta devido a esta nomeação, durante uma epidemia histórica.
Bolsonaro viu na convocação do general da ativa Eduardo Pazuello para cumprir esta “missão” a melhor forma de impor suas teses nada científicas ao Ministério da Saúde. Mesmo com um pé na política, o médico Luiz Henrique Mandetta, ex-deputado federal do DEM pelo Mato Grosso do Sul, preferiu ficar do lado do seu diploma a aceitar teses bolsonaristas sobre isolamento social e a hidroxicloroquina. Seu substituto, o oncologista Nelson Teich, esteve ministro ainda menos tempo. Saiu nas primeiras pressões a fim de que prescrevesse cloroquina para contaminados pela Covid-19, sem qualquer base em pesquisas sérias. Com Pazuello, foi emitido um “documento administrativo de informação e comunicação” sobre a substância.
O balanço dos dois meses do general Eduardo Pazuello na pasta não poderia ser outro do que negativo. Especializado em logística, o oficial levou mais militares para ajudá-lo, e o Ministério da Saúde nada fez de significativo no auxílio a estados e municípios em uma crise de saúde pública grave como esta. Um exemplo são os testes, vitais para os gestores da área terem informações básicas: o trajeto do vírus, as comunidades que devem ser isoladas etc. O atraso do Brasil neste aspecto é inqualificável. Chicago faz 40 mil testes diários, enquanto o Estado do Rio de Janeiro, 2 mil; os Estados Unidos testam 500 mil pessoas diariamente, o Brasil, 10 mil. O país batalha contra o Sars-CoV-2 com venda nos olhos.
Reconheça-se que mesmo com Mandetta e Teich a questão ficou por resolver. Mas Pazuello, do ramo da logística, nestes dois meses de gestão, pouco ou nada conseguiu. A enorme procura mundial pelos mesmos kits e insumos tem sido a justificativa para os sucessivos fracassos. A conclusão é que, diante de todas essas dificuldades, não será um general fora do ramo da saúde que desatará tantos nós.
Bolsonaro acaba de fazer rasgados elogios ao general, mas o prejudicou ao colocá-lo como ministro. E por ele ser da ativa facilitou a contaminação da imagem do Exército pelo rastro de perdas que a Covid-19 tem deixado na população e na vida do país.
Queira-se ou não, é no período da gestão de Eduardo Pazuello que a média móvel de mortes por Covid-19 no país oscila no elevado patamar de mais de mil óbitos diários. O total passa dos 75 mil, apenas ultrapassado pelos 140 mil dos Estados Unidos.
Seria infindável uma discussão sobre as responsabilidades na tragédia. Mas ao convocar um general da ativa, não especializado, para ser ministro da Saúde, Bolsonaro aproximou a tragédia do Exército e das Forças Armadas.
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