sexta-feira, 17 de julho de 2020

País perde 716 mil empresas na crise do coronavírus

Mais da metade dos negócios que fecharam as portas não vai reabrir

Pedro Capetti e Raphaela Ribas | O Globo

RIO - Durante a pandemia de Covid-19, o país perdeu 716 mil empresas. É o que mostra pesquisa inédita do IBGE sobre o impacto da crise do novo coronavírus nas companhias divulgada na quinta-feira. O número representa mais da metade de 1,3 milhão de firmas que estavam com atividades paralisadas temporária ou definitivamente na primeira quinzena de junho, devido às medidas de distanciamento social.

Segundo o levantamento, os efeitos da pandemia atingiram todos os setores da economia, mas foram mais intensos nos principais segmentos geradores de emprego no país: serviços e pequenas empresas. Entre as firmas que não voltarão a abrir as portas, 99,8% eram de pequeno porte.

— Os dados mostram que a Covid-19 impactou mais fortemente segmentos que, para a realização de suas atividades, não podem prescindir do contato pessoal, têm baixa produtividade e são intensivos em trabalho — explicou Alessandro Pinheiro, Coordenador de Pesquisas Estruturais e Especiais em Empresas do IBGE.

Regionalmente, os fechamentos foram mais intensos nas regiões mais desenvolvidas do país, como Sudeste, com 385 mil empreendimentos, e Sul, com 164 mil. Em seguida, vem o Nordeste, onde 123 mil empresas encerraram as atividades.

Entre o 1,3 milhão de negócios que fecharam, mesmo que temporariamente, 522 mil disseram ter tomado a decisão em razão da pandemia. Ou seja, quatro em cada dez empresas que encerraram as atividades — seja temporária ou definitivamente — fizeram isso por causa da disseminação do coronavírus.

De acordo com o IBGE, na primeira quinzena de junho havia cerca de quatro milhões de empresas ativas no país. Destas, 2,7 milhões estavam em funcionamento total ou parcial, enquanto 610,3 mil (15%) estavam fechadas temporariamente. Já cerca de 716,4 mil (17,6%) encerraram suas atividades em definitivo.

O impacto da crise do novo coronavírus, no entanto, não se restringiu a quem fechou. Entre as empresas que permaneceram em atividade, 70% afirmaram que a Covid-19 teve efeito negativo sobre seu negócio, com diminuição de vendas ou serviços, na comparação com o início da pandemia, e 948,8 mil cortaram pessoal no período.

Além disso, apenas 12,7% tiveram acesso ao crédito emergencial do governo para pagar salário.

Apesar dos prejuízos nos negócios serem majoritários, 16,2% declararam que o efeito foi pequeno ou inexistente. Já para 13,6%, a crise da Covid-19 trouxe oportunidades e teve um efeito positivo sobre a empresa.

Mais que a média anual
O presidente do Sebrae Nacional, Carlos Melles, destaca que a média do número de empresas que fecham por ano fica em torno de 10%, o que corresponde a cerca de 600 mil negócios — menos que os 716 mil registrados pelo IBGE que já haviam fechado as portas até junho. Por outro lado, anualmente, são abertos entre 500 mil e 600 mil negócios.

Melles acredita que, apesar dos números divulgados, a tendência para adiante é de melhora, mas é preciso que o dinheiro seja, de fato, liberado aos pequenos empresários.

— Em pesquisas nossas, os empresários dizem que chegaram a registrar quedas de 90% no faturamento. Hoje, falam em 50%. O que digo com segurança é que não cai mais, estamos em processo de retomada. O maior problema ainda é o acesso ao crédito. Ainda falta muito.

Segunda leva
Economistas, porém, começam a enxergar impacto direto do fechamento das empresas no emprego e no PIB. Dados do Ministério da Economia mostram que as pequenas empresas são responsáveis por 40% dos postos de trabalho formais no país.

— Estamos falando de pessoas com salário razoável, que pagam impostos, recolhem INSS e, portanto, o efeito será muito ruim sobre o consumo e péssimo sobre as contas públicas — ressalta José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. — Mesmo que não piore muito, a perspectiva de melhora da economia ainda é ruim.

Pedro Hermeto, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Rio de Janeiro, acredita que haverá uma segunda leva de fechamentos nos próximos meses no segmento, um um dos mais atingidos pela crise:

— Do início da pandemia até agora, fecharam de 2.500 a 3 mil bares e restaurantes na capital. Em um ano, quase 50% dos bares e restaurantes do Rio devem fechar.

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) ajudam a dimensionar o possível estrago no PIB, cuja queda estimada é superior a 6%, de acordo com o Boletim Focus, do Banco Central.

Segundo José Ribeiro, coordenador da área de Conhecimento para a Promoção do Trabalho Decente do Escritório da OIT no Brasil, as micro e pequenas empresas vêm desempenhando papel cada vez mais preponderante na economia brasileira. Em 2019, foram elas que asseguraram todo o saldo positivo do emprego formal gerado no país.

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