Fábio
Faria, Guedes, Maia, Renan e Kátia: todos por um
Aos
trancos e barrancos, com a democracia equilibrando-se na corda bamba por um
período, o governo do presidente Jair Bolsonaro engrenou e está cada dia mais
parecido com um governo convencional pós-retomada democrática, sustentado pelos
partidos do Centrão.
É
nesse cenário que soa natural a reforma ministerial que se avizinha. Cada vez
mais pragmático, como todo político, Bolsonaro está sendo convencido por
aliados a promover uma reforma ministerial após a eleição para as Mesas
Diretoras da Câmara e do Senado em fevereiro.
O
objetivo será recompor espaços e consolidar a base governista no Congresso, a
fim de garantir a governabilidade e começar a alinhavar as alianças para a
reeleição.
Bolsonaro
já negou, e para não perder o costume, chamou de “fake news” as primeiras
notícias sobre as iminentes mudanças no time de auxiliares.
Contudo,
aliados de seu núcleo mais próximo confirmaram à coluna, reservadamente, o
movimento nos bastidores, que dependerá dos resultados das eleições para a
sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Câmara e Davi Alcolumbre (DEM-AP) no
Senado.
Como
já se sabe, a dança das cadeiras começa com a nomeação do ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, para a vaga de José Múcio
Monteiro no Tribunal de Contas da União (TCU). Múcio deixa a cadeira em
dezembro.
Bolsonaro
é uma caixa de surpresas, mas, neste caso, a tendência é que ele confirme as
principais apostas, indicando o secretário especial de Assuntos Estratégicos,
vice-almirante Flávio Viana Rocha, para o lugar de Oliveira.
Os
passos seguintes da reforma dependerão da emocionante sucessão nas duas Casas.
A começar pelo impasse constitucional que obnubila a reeleição da dupla Maia e
Alcolumbre. A Constituição veda a reeleição dos dirigentes das Casas. A brecha
criativa, instituída por Antônio Carlos Magalhães, contempla a passagem de uma
legislatura para outra, o que não ocorre no momento.
Para
se preservar, Maia já rechaçou a reeleição. Mas na política, assim como na
vida, quem desdenha, quer comprar.
Rodrigo
Maia está no comando do Legislativo há quatro anos, desde que se elegeu para um
mandato-tampão em 2016, após a renúncia de Eduardo Cunha.
A
combinação do traquejo político com a longevidade no cargo, a proximidade do
mercado e o trânsito franqueado em quase todas as bancadas, o alçaram ao
patamar de um “player” estratégico, quase indispensável.
Por
isso, um time expressivo de aliados argumenta que um político com o perfil de
Maia não pode se despedir do cargo e, simplesmente, no dia seguinte, aterrissar
na planície. Esse grupo articula sua nomeação para um ministério - fala-se na
pasta da Educação -, caso sua recondução para novo mandato se revele
impraticável.
Segundo
fontes do palácio, pelo menos dois ministros - Fábio Faria (Comunicações) e
Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) - estão na linha de frente dessa
articulação. Até porque Ramos é cabo eleitoral da candidatura de Arthur Lira
(PP-AL) à cadeira de Maia.
Como
ministro, Maia seria um articulador de luxo do governo para ajudar a
impulsionar as reformas econômicas no Legislativo.
Por
sua vez, reconstituídos os laços com Maia, o ministro da Economia, Paulo
Guedes, não seria óbice ao projeto. Aliás, estão todos vestindo a mesma camisa:
Rodrigo Maia, Fábio Faria e Paulo Guedes uniram-se em torno de um núcleo de
poder, ao qual se somam os traquejados senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e
Kátia Abreu (PP-TO).
As
cenas dos últimos capítulos mostraram Renan, Kátia e Rodrigo Maia como as
lideranças do parlamento mais engajadas no socorro a Paulo Guedes. Renan,
registre-se, articulou o jantar de reconciliação de Maia e Guedes, do qual
participaram Fábio Faria, Kátia e Luiz Eduardo Ramos.
Não
foi aleatória a alfinetada de Guedes em Alcolumbre, quando afirmou que o
presidente do Senado teria mais tempo para ajudar o governo se não se
empenhasse tanto na reeleição.
A
visão de uma ala do Palácio do Planalto é que o Supremo Tribunal Federal (STF),
sob a batuta de Luiz Fux, impedirá a “aventura constitucional”, que avalizaria
a reeleição de Maia e Alcolumbre.
A
se confirmar essa hipótese, o cenário que essa ala palaciana vislumbra é uma
candidatura competitiva do MDB ao comando do Senado, com a simpatia do governo.
Os candidatos seriam Renan Calheiros ou Eduardo Braga (MDB-AM), ambos com o
respaldo de Paulo Guedes, Ramos, Fábio Faria e Rodrigo Maia.
Na
Câmara, sem Maia, o palácio continua apostando em Arthur Lira. Mas a factível
postulação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, do DEM, não desagrada
ao Planalto. Neste cenário, Maia teria que trabalhar o apoio de seu grupo ao
nome de Cristina, e trazer a oposição para esta candidatura.
Nesta
hipótese, a redistribuição de espaços na Esplanada seria decisiva para
prosperar a articulação. Uma eventual eleição de Tereza Cristina para o comando
da Câmara - avançando-se, aqui, 20 casas no tabuleiro - obrigaria Bolsonaro a
abrir espaços no primeiro escalão para acomodar o PP de Ciro Nogueira e Arthur
Lira, e o Republicanos, do vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (SP) -
outro nome competitivo para a sucessão de Maia, que também conta com a simpatia
do governo.
Pelo
umbigo
E por falar em Republicanos, o clã Bolsonaro nunca esteve tão umbilicalmente ligado ao partido, lembrando os apoios a Celso Russomanno em São Paulo, e a Marcelo Crivella no Rio de Janeiro. Com a eleição da nova direção do Senado, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) deixará a Terceira Secretaria, que Davi Alcolumbre ofereceu a outro aliado. Para não ficar na planície, Flávio será o novo líder do Republicanos no Senado a partir de fevereiro. É mais um passo na direção contrária do Aliança pelo Brasil, do qual Flávio é o primeiro vice-presidente.
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