Na
sua diplomacia errática, Bolsonaro se arrisca a terminar o mandato sem acordos
comerciais relevantes
Sob
intensa pressão empresarial, governos do Brasil e dos Estados Unidos correram
para concluir acordos relegados há anos ao remanso da diplomacia. Estão longe
do pacto “ousado”, anunciado a cada semana dos últimos 22 meses por Jair
Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes.
Notável
foi a pressa para terminá-los a apenas duas semanas da eleição americana. É
consequência de temores no setor privado com o duplo risco no horizonte:
possível derrota de Trump combinada às dificuldades brasileiras com um eventual
governo democrata, cujo potencial Bolsonaro insiste em multiplicar a cada
avanço de Joe Biden.
Os
papéis de ontem resumem expectativas de inversão no estado degradado das
relações bilaterais. O fluxo de comércio e de investimentos caiu 25%, o mais
baixo na década, atestando perdas com as ilusões bolsonaristas sobre o
alinhamento a Donald Trump na guerra com a China.
Os
compromissos anunciados são relevantes, porém restritos. Cria-se um canal para
liberação mais rápida de mercadorias e ajusta-se uma futura revisão de leis,
para cumprir velhas promessas na tributação. Novidade é um legado da Operação
Lava-Jato, aquela que Bolsonaro anuncia ter liquidado: adoção no Brasil de
padrões anticorrupção usuais nos EUA, com proteção jurídica a quem denuncia
subornos.
Aparentam
menos vantagens que a proposta chinesa já enunciada pelo embaixador Yang
Wanming, para aumento dos investimentos: cooperação na economia digital a
partir da tecnologia 5G e comércio aberto, com redução de emissões de carbono
até 2030 e neutralidade até 2060.
Na sua diplomacia errática, Bolsonaro se arrisca a terminar o mandato sem acordos relevantes com os EUA, com a Europa e, ainda, brigando com a China por causa da tecnologia 5G, embora tenha presidido um inédito aumento da dependência de Pequim, cliente único de 40% das vendas do agronegócio brasileiro. Deveria ouvir o diplomata Thomas Shannon, que serviu aos governos Obama e Trump. Ele apareceu em São Paulo ontem, advertindo: o Brasil não deveria se meter e muito menos escolher um lado na guerra EUA-China.
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