Aras
oficializou a morte simbólica da operação
Se
eu fosse um político corrupto, estaria celebrando. A sangria foi finalmente
estancada. Ao não renovar o mandato da força-tarefa de Curitiba, o
procurador-geral da República, Augusto Aras, oficializou a morte simbólica
da Lava
Jato.
O
defunto é um daqueles personagens complexos, cuja perda é lamentada, mas cujos
podres todos comentam no velório. Aliás, os maus hábitos da vítima, notadamente
a hýbris do ex-juiz Sergio Moro e de procuradores de Curitiba, foram em larga
medida responsáveis por seu passamento.
Se o magistrado tivesse se comportado como a lei preconiza, não haveria margem para as contestações que acabaram por minar o prestígio da operação e poderão reverter algumas de suas condenações. E é assim que tem de ser. O devido processo legal, que inclui o direito de não ser julgado por um juiz documentadamente parcial, é ponto inegociável no Estado de Direito.
O
que torna o ocaso da Lava Jato especialmente lastimável é o fato de que não
teria sido difícil chegar a resultados muito próximos aos que ela gerou sem que
o magistrado estabelecesse um relacionamento promíscuo com a acusação. Os
esquemas de corrupção eram reais, e as leis da física e o mecanismo das
delações premiadas teriam sido mais do que suficientes para encontrar as
provas.
O
problema com a corrupção é que ela funciona bem. Na verdade, é a segunda melhor
forma de organização da sociedade. É menos eficiente do que um sistema no qual
tudo ocorra de acordo com regras impessoais, mas é superior a um regime no qual
tudo fica sujeito ao capricho de autoridades ou, pior, a um no qual as
"concorrências" se resolvem à bala. É por funcionar que é difícil
acabar com ela.
Ao deixar que a Lava Jato morra de morte melancólica, o Brasil perde mais uma oportunidade de fazer a transição do time das republiquetas para o de países um pouco mais sérios. Quem sabe tenhamos mais sorte na próxima vez.
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