Nos momentos que antecediam a reunião da Mesa da Câmara para decidir sobre a prisão em flagrante do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) pela Polícia Federal, atendendo determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, deputados e ministros da Corte conversavam nos bastidores sobre a possibilidade de um acordo de procedimentos que evitasse desgaste para os dois Poderes.
Por
esse desenho, a Mesa da Câmara faria um aceno ao STF na reunião prevista para
começar agora, às 13h, reconhecendo a gravidade dos ataques que o deputado
desferiu contra o STF e repudiando os vídeos com ameaças a integrantes da Corte
e ao funcionamento do Judiciário. Ao mesmo tempo, encaminharia imediatamente ao
Conselho de Ética da Câmara os vídeos com a recomendação de análise, a partir
da semana que vem, da possibilidade de abertura de investigação por quebra de
decoro parlamentar.
Essas
iniciativas viriam juntamente com a manifestação da Mesa contra a prisão em
flagrante por crime inafiançável, que, segundo conversei com deputados, é
unanimemente condenada por eles, uma vez que, pela justificativa do ministro,
segundo eles, qualquer um pode vir a ser preso por vídeos gravados anos atrás,
uma vez que o flagrante não se encerra no tempo, no entendimento exarado por Alexandre
de Moraes.
A expectativa de deputados é a de que, com esse gesto em reconhecimento ao caráter inaceitável da postura de Daniel Silveira, seria mais fácil obter o relaxamento da prisão do deputado não ainda nesta tarde, quando se espera que o STF referende por unanimidade a decisão de Moraes, mas na audiência de custódia.
Essa
audiência será comandada pelo próprio ministro relator do inquérito das fake
news e ameaças contra a Corte e seus integrantes, e só deve ser marcada para a
manhã de quinta-feira.
Mas
não deverá ser tão simples assim obter um acordo entre Câmara e STF. Ninguém
bota nenhuma fé na possibilidade de uma investigação contra Daniel Silveira
avançar no Conselho de Ética, órgão que está sem se reunir desde o início da
pandemia, mas que, mesmo antes, era inerte em relação a sucessivas
manifestações antidemocráticas de deputados como Eduardo Bolsonaro, por
exemplo.
Além
disso, é considerada insuficiente essa iniciativa por parte da Mesa da Câmara,
e ministros do Supremo sobre os quais conversei a respeito da possibilidade de
uma composição acreditam que, se a Corte ceder agora, haverá uma escalada de
ataques à democracia e às instituições.
Por
fim, os ministros parecem querer pagar para ver como a Câmara vai se comportar,
justamente pelo fato de que há vários outros parlamentares investigados no
mesmo inquérito, e nada indica que eles estejam moderando suas ações. Ministros
me disseram duvidar que, numa votação aberta, e com voto nominal, a maioria da
Câmara vá votar pela suspensão da prisão de Daniel Silveira.
Pode
ser que a Corte esteja incorrendo em erro de avaliação, já que é conhecido o
espírito de corpo dos parlamentares e há vários deles, inclusive em postos de
comando na Casa, com processos em andamento no STF.
Um
histórico recente de votações da Câmara e do Senado sobre prisão de
parlamentares dá a medida: em 2016, no auge da Lava Jato, o Senado votou,
aberto, a favor da manutenção da prisão do senador Delcídio Amaral, por 53 a
13.
Já
no ano seguinte passou a vigorar o espírito de corpo. Por 44 a 26, também em
votação aberta, o mesmo Senado rejeitou o recolhimento noturno à prisão de
Aécio Neves.
O mesmo precedente valeu para que a Câmara rejeitasse o afastamento do mandato do deputado Wilson Santiago (PTB-PB) no ano passado. Foram 233 votos a 170, e nada menos que 101 abstenções.
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