- Folha de S. Paulo
Brucutus
causam crises políticas que emperram decisões de governo e Congresso
O
bolsonarismo custa caro até para Jair Bolsonaro, embora este governo não seja
lá muito capaz de fazer certos cálculos pragmáticos a respeito de sua
sobrevivência.
O
sururu sórdido causado por esse deputado
federal Daniel Silveira (PSL-RJ) é um exemplo menor, em termos
práticos. Afora imprevistos, essa crise não deve paralisar o Congresso por mais
que um par de dias. É pouco, mas o tempo já era escasso para aprovar a emenda
constitucional que deve abrigar o novo
auxílio emergencial e o Orçamento —é preciso fazê-lo até março. Outras
bolsonarices ou suas sequelas podem causar mais tumultos políticos e
parlamentares que afetariam até as perspectivas abaixo de medíocres da economia
para este 2021.
Dezembro e também janeiro foram meses abaixo das expectativas já limitadas de atividade econômica. A julgar pelo valor das vendas por meio de cartões, janeiro foi parecido com dezembro, mês em que, pela estatística do IBGE, as vendas no varejo caíram 6,1% em relação a novembro de 2020. A confiança do consumidor e das empresas continuou baixando no início do ano. É um efeito óbvio de piora da epidemia e do fim do auxílio emergencial e do benefício de complementação de salários reduzidos pelas empresas.
Em
junho, pico desses benefícios, os pagamentos foram de R$ 51,8 bilhões (uma vez
e meia a despesa anual do Bolsa Família). Em setembro, baixaram a R$ 27,5
bilhões. Em dezembro, para R$ 19,5 bilhões. Em janeiro, para quase nada,
restos. Sem demanda a economia volta a murchar. A segunda perna do “V” da
recuperação de Paulo Guedes vira uma língua caída para fora.
A
fim de criar um novo auxílio emergencial em seus termos, o governo tem de
convencer o Congresso a aprovar uma emenda constitucional de “Orçamento
de calamidade” associada a corte de gastos, dado de barato pelo
comentarismo político e econômico. Como se diz faz meses nestas colunas, isso
dá rolo.
Exemplo.
Com muito aperto e ajuda de leis, a despesa com a folha de servidores federais
caiu de R$ 333,8 bilhões em 2019 para R$ 331,8 bilhões em 2020 (valores
ajustados pela inflação). “Ajuste” de R$ 2 bilhões. Pelas novas contas do
governo, o novo auxílio deve custar R$ 42 bilhões em 2021 (quatro parcelas de
R$ 250 para 42 milhões de pessoas) —no Congresso, a conta tende a ficar maior.
É
fácil perceber que não bastará arrumar conflito apenas com o funcionalismo. De
onde vão sair outras “compensações”?
Se
o rolo for grande, a emenda do novo auxílio pode demorar ou até passar sem as
“compensações”, com o que haverá algum custo financeiro (dólar e/ou juros mais
salgados).
Quanto
mais rolo político, mais difícil aprovar qualquer coisa além do básico do
básico (auxílio e Orçamento).
No
entanto, como se não bastasse a baderna da sua milícia de brucutus,
Bolsonaro decreta
coisas como o dilúvio de armas e munições, por exemplo. Em si mesmo uma
selvageria, o decreto pode causar mais confusão no Congresso.
Mesmo que a economia não tenha por ora perspectiva decente no médio prazo, Bolsonaro poderia manter o vento a seu favor se lidasse de modo menos idiota com os problemas de agora (vacina, Orçamento, a ideia de que não haverá explosão fiscal no curto prazo). Por ora, está quieto e assim frustra suas milícias por não dar apoio ao deputado brucutu, o “Daniel de Quê?”, segundo Luiz Fux, do Supremo. Mas o bolsonarismo está sempre à beira de dar um tiro no pé, no mesmo com que pisa no pescoço dos brasileiros.
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