Kátia
Abreu volta a confrontar Ernesto Araújo, agora na CPI
A
Bahia pode servir de laboratório ao cenário eleitoral mais cobiçado pelo bloco
de centro, em que o presidente Jair Bolsonaro seria eliminado no primeiro
turno. Na rodada final, o representante da terceira via, que rompesse a
polarização, enfrentaria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e
derrotaria o petista, contando com a alta rejeição ao candidato.
Nos
bastidores, nove em dez caciques do centro consideram esse cenário, cantado em
entrevistas ao Valor pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, e pelo
presidenciável do PDT, Ciro Gomes.
A
Bahia tem o quarto maior eleitorado do país. A sucessão estadual é estratégica
para o DEM do ex-prefeito de Salvador ACM Neto, para o PT de Lula e para o desempenho
de Bolsonaro no Nordeste.
O
Estado projeta esse cenário idílico para o centro porque, a um ano e meio da
disputa presidencial, a pré-campanha baiana tem o DEM largando na frente, o PT
fortemente competitivo e Bolsonaro sem palanque.
Com
o DEM perdendo seus principais quadros para outras legendas em Estados-chaves,
como São Paulo e Rio de Janeiro, recuperar a hegemonia do carlismo na Bahia
tornou-se questão de honra para ACM Neto.
Nas últimas semanas, o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, aposta de Neto no Estado mais rico do país, filiou-se ao PSDB pelas mãos de João Doria, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, migrou para o PSD. Diante do revés, Neto convocou a imprensa baiana para divulgar os próximos passos da pré-campanha, e avisou que não teme Lula, que é considerado imbatível no Estado.
Neto
largou na frente, está percorrendo o interior do Estado desde o começo do ano,
e aparece nas primeiras pesquisas sobre a sucessão local até 20 pontos à frente
do senador Jaques Wagner, que o PT recém lançou como pré-candidato.
Aliados
de Neto apostam que após 16 anos de gestão petista, o partido amargará a
chamada “fadiga de material”, e o eleitor cobrará mudança.
“Não
é um candidato a presidente da República que vai definir a eleição na Bahia. Os
baianos já passaram dessa fase”, disse Neto à imprensa local.
Como
o PT deve ceder a cabeça de chapa aos aliados nos maiores colégios eleitorais -
Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo -, manter o poder na Bahia é
fundamental.
Wagner
governou o Estado duas vezes, de 2007 a 2014, elegeu o sucessor, Rui Costa,
reeleito com folga em 2018, e é lembrado como o político que derrotou o
carlismo em 2006 com Lula no palanque.
O
PT sonha em reeditar a chapa vencedora em 2010, com o senador Otto Alencar (PSD)
como candidato a vice de Wagner.
Os
números do PT na Bahia impressionam. Em 2018, Fernando Haddad, obteve 72,6% dos
votos. Bolsonaro venceu em apenas quatro dos 417 municípios baianos.
Em
contrapartida, Neto elegeu o sucessor no primeiro turno: o prefeito de
Salvador, Bruno Reis, venceu com 64,2% dos votos, e foi, proporcionalmente, o
mais votado no país.
Na
polarização baiana PT x DEM, Bolsonaro esboça um palanque ao governo para o
ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos), como o “pai” do novo Bolsa
Família turbinado, que o governo pretende lançar em agosto.
Novato
na política, deputado federal de primeiro mandato, seria uma jogada de risco.
Roma é afilhado político de ACM Neto, e não se sabe se, mesmo rompidos,
aceitaria enfrentar o ex-aliado.
Não
se descarta nos bastidores do governo, entretanto, um cenário de aliança com
ACM Neto oferecendo o palanque para Bolsonaro, e João Roma na chapa concorrendo
ao Senado.
Nenhum
dos postulantes, entretanto, pode desprezar aliança com PSD ou PP, que têm o
maior número de prefeitos, cabos eleitorais por excelência nas disputas
estaduais.
O
maior cacife eleitoral é o do senador Otto Alencar: o PSD elegeu 108 prefeitos
na Bahia, à frente do PP, que fez 92 gestores. DEM vem muito atrás, com 37
prefeitos, e o PT, na lanterna, com 32.
Otto
Alencar diz que é cedo para definir seu futuro porque uma candidatura precoce
“está fadada ao desacerto”. A cúpula do PSD o prefere como candidato ao Senado
na chapa do PT, porque Gilberto Kassab tem projeto de fazer a maior bancada
para tirar do DEM a presidência da Casa em 2023.
Confronto
à vista
Pivô
da demissão do chanceler Ernesto Araújo, a presidente da Comissão de Relações
Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), volta a confrontar o diplomata hoje
na CPI da Covid quase dois meses após o episódio.
Ela
representará a bancada feminina no rodízio acertado entre as senadoras, e
acordado com o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), que assegurou às
senadoras o direito de inquirir os depoentes.
A
concessão revoltou senadores. Roberto Rocha (PSDB-MA) reclamou que se haveria
cota feminina, pleitearia a extensão da prerrogativa por ser “portador de
comorbidade”.
A
China foi pano de fundo do atrito com Araújo, e continua na ordem do dia. Kátia
disse à coluna que a inquirição ao ex-chanceler acabou em segundo plano, porque
sua prioridade nesse momento é articular a visita oficial a Pequim para comprar
a vacina da Sinopharm, e viabilizar a produção do imunizante nas fábricas
brasileiras de vacinas contra a aftosa. “A minha ideia é o Brasil se tornar um
grande ‘hub’ de produção de vacinas”, defendeu.
No
fim de março, Araújo publicou nas redes sociais que Kátia teria lhe pedido um
“gesto” em relação ao 5G pela China. Horas depois, ela reagiu com nota em que
chamou o diplomata de “marginal”, por viver “à margem da boa diplomacia, à
margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às
instituições”.
O ataque de Araújo à senadora foi considerado uma ofensa ao Senado, e no dia seguinte, ele foi afastado por pressão do Centrão. O Planalto está preocupado com o depoimento de Araújo, porque ele deu sinais de ressentimento ao publicar nas redes que o governo transformou-se em uma “administração tecnocrática sem alma nem ideal“.
Nenhum comentário:
Postar um comentário