- O Globo
Mesmo ainda sem saber de sua morte, Eva
Wilma me emocionou, quando vi anteontem um vídeo em que, cerca de dois anos
atrás, ela declamava de cor, sem vacilar, sentada na primeira fila da plateia,
um texto de mais de dois minutos de “Antígona”, de Sófocles, no Teatro Poeira,
de Andrea Beltrão e Marieta Severo. A personagem, como se sabe, é uma trágica
heroína grega que enfrenta um tirano, assim como nossa atriz lutou contra a
ditadura militar. “Ainda não acreditamos que no final o bem sempre triunfa, mas
começamos a crer que o mal nem sempre vence.” Quando encerrou recitando “O mais
difícil da luta é escolher o lado em que lutar”, a atriz foi ovacionada. O
público tinha entendido o recado, muito atual.
O vídeo me fora enviado pela minha amiga, escritora e juíza Andréa Pachá, depois de um longo papo por telefone, em que eu contava que grande parte das pessoas com quem tinha conversado ultimamente se queixava de depressão, inclusive eu. Dizia que, se o Ancelmo me entrevistasse para sua pesquisa para escolher “a palavra do ano”, não havia dúvida quanto ao meu voto. Bruno Covas ainda não tinha morrido, mas seu quadro era irreversível, e mais uma vez me veio à memória um verso do belo e pungente poema “Morte e vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto: “Como aqui a morte é tanta”. Estava pensando, claro, nos milhares de brasileiros exterminados pela pandemia.
A manchete de ontem da coluna de Patrícia
Kogut, baseada em pesquisas, é “Brasileiros em peso se interessam por CPI da
Covid”. Ela acrescenta que está todo mundo assistindo e comentando. Amanhã,
então, a audiência deverá bater o recorde, pois, palpito eu, as pessoas querem
saber se Pazuello blindará o presidente, atraindo para si toda a
responsabilidade dos malfeitos na pandemia, como a falta de medicamentos do kit
entubação, a crise de oxigênio em Manaus e a indicação de remédios ineficazes
no tratamento da Covid-19. Será interessante acompanhar os malabarismos que o
general fará para se equilibrar entre o direito de ficar em silêncio garantido
pelo habeas corpus e a obrigação de não mentir.
O senador Renan Calheiros, relator da CPI,
declarou domingo à noite na GloboNews que a comissão está tranquila, pois nem
todos perceberam que o habeas corpus só permite que o ex-ministro da Saúde
fique calado em relação ao que possa incriminar a si próprio. Isso os outros
depoentes farão. A ele caberá a obrigação de incriminar terceiros. Quem deve
estar tenso é o presidente, arrependido de não ter protestado — ao contrário,
riu satisfeito —quando o general, subserviente, disse, apontando para o capitão
e garantindo: “Um manda, o outro obedece”.
Está previsto para depois de amanhã o
depoimento da secretária de gestão do trabalho e da educação na saúde do
Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”. Seus
advogados apresentaram um pedido de habeas corpus preventivo, mas até a noite
de segunda não se sabia o resultado.
Se a moda pega...
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