- O Globo
Um bom soldado não morre na véspera, reza a
lenda. Menos os bolsonaristas —esses morrem antes, durante e depois.
Sendo que o durante (ao vivo e em cores)
chega a ser vergonhoso por desnudar o exército olavista com tremores faciais,
esgares de medo, tiques inesperados, suores amazônicos e o grito de “mamãe!”
entalado na garganta. Canastrões fundamentalistas, suas mentiras são
legendadas.
Nunca neste país houve uma corja governante
desmentida pelas redes sociais em forma de VAR. A cada mentira dita na
Escolinha do Professor Renan, à semelhança de mortos-vivos, de imediato
retornam a circular antigos tuítes ou vídeos de quando o prócer bolsonarista
bancava o macho-alfa no mundo digital. Na vida real, tremem miseravelmente de
medo.
Vou repetir: aqui se posta, aqui se paga.
Parece ser uma invenção de Olavo de Carvalho, plasmada pelo Bozo, o grotesco padrão do valente de salão. Escondido na Virgínia, o raivoso lançador de perdigotos dita o discurso bozonarista em nível de aposto escatológico. Forjou, como um sub-Goebbels, a estampa do ultradireitista brazuca ao surgir com chapéu e espingarda à mão. Ao ser trazido do bunker digital à vida terrestre, condenado a pagar milhões por suas obsessivas calúnias, chorou palavrões. Aí se fez de pobre coitado. É o modus bozus de fuga.
Prosseguindo na exegese da bozonalhice, o
padrão chorão teve sua estreia pública encenada pelo filho Zero Um. Ah, foi
emocionante. Era para ser um prosaico debate entre os candidatos à prefeitura
do Rio. Sabe, troca de ideias, de argumentos, algo comum em nossa sociedade. Ao
ser retirado de seu universo Mario Bros., porque pressentiu perguntas difíceis,
inclusive da doce Jandira Feghali, como um bozo de papel, desmaiou numa farsa
de um clinch mal ensaiado. Foi ao vivo e em cores. São milicianos virtuais. No
campo, diante do pênalti, desmoronam.
Tempos depois, foi a vez de o Zero Zero
calibrar o estilo. De novo, ao vivo e em cores. Nos dois únicos debates entre
os candidatos a presidente a que teve coragem de comparecer, vimos Bozo
gaguejar e tremer diante da doce Marina Silva. E olha que não lhe foi
perguntado algo como o significado de ectoplasma ou de quantas cores se compõe
um semáforo. Como essa coisa de hierarquia é irrelevante no Brasil, o cabo
Daciolo mostrou-se mais destemido do que o capitão.
Veio a surpreendente presidência e, com
ela, um palco difícil de controlar. Entrevista só para quem adula. Os recados
são enviados por lives e tuítes de sintaxe carluxesca. O estilo buscava lustro.
Até que um dia a coisa fugiu do laboratório — ou do cercadinho à porta do
palácio montado com o gado de sempre… Confrontado por imigrante haitiano, ouviu
catatônico:
— Seu governo acabou.
Não ousou retrucar, atônito, como se
ouvisse o esperado chamado ao inferno. Era março do ano passado.
Os bozos elegeram Lula como anátema, até
ganharam o primeiro jogo com ajuda do juiz. A história, essa jogadora
implacável, agora dá um truque no roteiro. Basta comparar o desempenho dos
machos digitais como Ernesto Araújo e Wajngarten com seus antípodas do mensalão
petista. Mesmo essa piada gaga que é o Arthur Lira há de concordar que a troica
dos companheiros exibiu uma dignidade romântica, também de charme heroico.
Coloque-se lado a lado Ernesto Araújo e José Dirceu. Ou Wajngarten e Delúbio Soares. Ou Pazuello (espécie de Eichmann bozonarista) e Vaccari. Que teremos como resultado? A diferença entre oportunismo e ideologia. Vívida lição biológica do que sejam os seres vertebrados e invertebrados. Como se recorda, os três próceres petistas amargaram (merecidamente) cana por seus crimes, e deles não se ouviu uma única confissão. Ali ninguém entregou ninguém. Da boca de Dirceu, não escorreu qualquer acento contra nenhum companheiro. Também não amarelou de medo. Os três, se morreram pelo bolso, não morreram pela boca. Tem-se o direito de não gostar deles, mas eles têm um crédito já negado aos bozonaristas. Pazuello, Ernesto e Wajngarten não terão como esconder de seus filhos: chamados de mentirosos, abaixaram a cabeça. Pelo andar da novela, logo serão nomeados como cúmplices de genocídio. Ao vivo e em cores.
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