domingo, 6 de junho de 2021

Ricardo Noblat - O que o futuro reserva depois da rendição do Exército a Bolsonaro

- Blog do Noblat / Metrópoles

Se derrotado na eleição do ano que vem, o presidente tentará melar o resultado. Só então se saberá de que lado ficarão os militares

Está tudo dominado pelo presidente Jair Bolsonaro. O Congresso, no bolso dele. A Receita Federal, a Polícia Federal, a Agência Brasileira de Inteligência e a Procuradoria-Geral da República, sob seu estrito controle. Faltava render-se o Exército, não falta mais.

Resta o Supremo Tribunal Federal onde, a partir do julho, dois dos seus 11 ministros terão sido indicados por Bolsonaro. Caso ele vença a eleição presidencial do ano que vem, a bancada bolsonarista no Supremo passará a contar com quatro ministros.

Ela engordará também nos demais tribunais superiores e no comando de universidades. Será bom preparar-se para a hipótese de que Bolsonaro eleja seu sucessor. Lula não se elegeu, elegeu Dilma e a reelegeu? O PT governou o país por quase 13 anos.

Quando era apenas candidato a suceder o presidente José Sarney em 1989, Fernando Collor comentou com amigos: “Se ganharmos a eleição, mandaremos no país durante 20 anos”. À época, o mandato presidencial era de cinco anos e não havia reeleição.

No plano de Collor, ele elegeria seu sucessor e o Congresso, em seguida, substituiria o presidencialismo pelo parlamentarismo como regime de governo. Na eleição seguinte, ele, Collor, se elegeria deputado e assumiria o cargo de primeiro-ministro.

Então ajudaria o presidente, a essa altura uma figura decorativa, a reeleger-se, e poderia na próxima eleição vir a sucedê-lo. Era um plano maluco? Jamais se saberá. Collor teve seu mandato cassado por corrupção. Governou por dois anos e seis meses.

A rendição do Exército a Bolsonaro é definitiva? Ao não punir o general Eduardo Pazuello, que compareceu a uma manifestação político-partidária, o Exército antecipou seu voto em Bolsonaro nas eleições do ano que vem? Ou é uma rendição temporária?

O amanhã a Deus pertence, para quem acredita nele. O Exército votou em Bolsonaro em 2018 para impedir a volta da esquerda ao poder. Votará outra vez, só não se sabe de forma mais ou menos massiva. Mas o que fará se ele for derrotado?

Donald Trump quis dar um golpe para permanecer no poder. Vencido, entrincheirou-se na Casa Branca e disse que houve fraude. O Partido Republicano, até hoje, repete que a eleição foi fraudada e se mexe para fraudar as eleições legislativas de 2022.

Bolsonaro não tem partido para lhe fazer coro se perder, mas tem fardados da ativa e da reserva, milicianos armados, policiais militares, caminhoneiros, garimpeiros e ruralistas, fiéis devotos capazes de sair em sua defesa; uma tropa que só admite a vitória.

Se perder por uma diferença larga, ficará difícil para ele melar o resultado. Se a diferença for pequena, o país enfrentará o pior dos cenários imagináveis. E a posição do Exército, seja como instituição do Estado ou de aliado do presidente, fará a diferença.

Revelado quem mandou a PM de Pernambuco atacar manifestantes

Coronel que deu a ordem foi demitido pelo governador Paulo Câmara

Foi o comandante da Polícia Militar de Pernambuco, coronel Vanildo Maranhão, quem deu a ordem para que o Batalhão de Choque reprimisse as manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro no último sábado, dia 29, no Recife.

É o que revela um documento oficial da comunicação interna da polícia publicado pelo Jornal do Commercio. Dois homens ficaram cegos de um olho. Uma vereadora do PT foi atacada com spray de pimenta. Maranhão foi demitido pelo governador Paulo Câmara.

O policial, autor do documento, escreveu que a tropa foi hostilizada pelos manifestantes armados com pedras e limitou-se a reagir. Em nenhum dos muitos vídeos que registraram as cenas de violência há provas ou vestígios de que isso aconteceu.

Lula hesita em quebrar o isolamento, sair às ruas e viajar pelo país

Ele não quer ser acusado de promover aglomerações

Sondado sobre sua disposição em comparecer às manifestações contra o governo Bolsonaro do último sábado, dia 29, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva respondeu que não seria o caso.

Ele ainda não quer ser visto em atos públicos para não dizerem que é um homem de duas palavras – recomenda o isolamento por causa da pandemia, mas provoca aglomerações.

Não quer parecer-se com Bolsonaro. Esta semana, ocupou parte dos seus dias submetendo-se a exames no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, aos cuidados do cardiologista Roberto Kalil.

A saúde vai bem, e por ora Lula só quer conversar, a sós ou em pequenos grupos. Mas começou a ser aconselhado a viajar ao Nordeste, sua fortaleza de votos, para marcar presença.

Do marketing de sua campanha a presidente no ano que vem, se encarregará um publicitário baiano que já trabalhou para o senador Jaques Wagner e o PT nacional.

Das redes sociais, o jornalista Franklin Martins, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) durante o segundo mandato presidencial de Lula.

No próximo dia 23, o Supremo Tribunal Federal vai retomar o julgamento da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro no processo do tríplex de Lula. Faltam votar dois ministros.

Mas já tem maioria formada a favor da suspeição. O temor de Lula é que o desfecho do julgamento seja adiado. Até o final deste mês, ainda prefere manter-se recolhido.

Não contem com ele, portanto, para as manifestações anti-Bolsonaro convocadas para o próximo sábado, dia 19. Seus promotores calculam que elas serão maiores que as anteriores.

Desta vez, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Sem Terra (MST) não irão limitar-se a enviar representantes.

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