Folha de S. Paulo
Além de caro e demorado, acoplar
impressoras a urnas eletrônicas seria expô-las a erros e violações
Em 1993, Jair
Bolsonaro levantou a hipótese de fraude no voto impresso. “Não
querem informatizar as apurações pelo TRE [Tribunal Regional Eleitoral]. Sabe o
que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos e só serão computados 3.000”,
disse o então deputado, em registro do Jornal do Brasil. Desde então, o Brasil
realizou 13 eleições usando urnas eletrônicas sem uma fraude sequer comprovada.
Já em 2018, Bolsonaro disse que não
aceitaria o resultado
da eleição se não fosse o vencedor. Repete o mesmo sobre 2022.
Na última quinta-feira desafiou: “Se [as urnas] são [confiáveis], dá um tapa na
minha cara”. Segundo Bolsonaro, sua única intenção é sanar a desconfiança no
sistema eleitoral —desconfiança que ele próprio plantou.
Bolsonaro muda de ideia sem pudor porque
seu único compromisso é com a violência. Suas teorias conspiratórias servem
para manter a militância em alerta. Por isso, seu novo problema era a solução
de outrora.
Infelizmente, mesmo sem provas ou nexo, essa desinformação ecoa na sociedade e corrói a confiança na democracia. Em 2018, 30% dos policiais declararam a um levantamento do Instituto Ideia confiar muito no sistema eleitoral. Em 2021, apenas 15% responderam o mesmo.
E a estratégia nem sequer é original. Em
2016, Donald Trump também atacou o sistema eleitoral norte-americano. Naquele
ano, 84% dos eleitores republicanos disseram acreditar em “número
significativo” de fraudes naquela eleição.
No Brasil, Aécio Neves abriu essa porta em
2014 ao pedir auditoria da eleição em que não recebeu votos suficientes para
vencer Dilma Rousseff. Hoje, em vez de fazer mea culpa, o ex-príncipe tucano
apoia o delírio bolsonarista.
Além de caro e demorado, acoplar
impressoras a urnas eletrônicas seria expô-las a erros e violações. Nosso
sistema eleitoral já é confiável e auditável. Bolsonaro semeia essa dúvida para
colher o caos e justificar o golpe.
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