O Globo / Folha de S. Paulo
Mudanças no ministério, 24 ao todo em menos
de três anos, mostram um governo sem objetivo
Em menos de três anos de governo, Jair
Bolsonaro fez 24 mudanças no seu ministério. Não chega a ser demais. Havendo um
problema, mexe-se no time. No Ministério da Educação, ele criou três encrencas
até chegar ao experimento com o doutor Milton Ribeiro. É o jogo jogado.
A porca torce o rabo quando se vê que no
Palácio do Planalto, o coração do governo, há quatro ministros e só nesse time
aconteceram nove mudanças, duas delas traumáticas.
Pela Casa Civil, a pasta mais relevante,
passaram três titulares: Onyx Lorenzoni, Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos. O
capitão começou com Lorenzoni, seu aliado do tempo em que os bolsonaristas
cabiam numa Kombi e agora ficará com Ciro Nogueira, que via nele um fascista.
Pela Secretaria-Geral da Presidência que
pode fazer muita coisa ou coisa nenhuma, passaram quatro titulares. Para lá vai
Luiz Eduardo Ramos que, como chefe da Casa Civil, não sabia que mudaria de
serviço. O primeiro a ocupar a cadeira foi Gustavo Bebianno, outro passageiro
da Kombi bolsonarista. Demitido de forma cruel, morreu meses depois.
Pela Secretaria de Governo, que pode
coordenar as relações com o Congresso, passaram o general da reserva Santos
Cruz, o onipresente Ramos e hoje está lá a deputada Flávia Arruda, que precisa
combinar com Ciro Nogueira quem fará o quê. Santos Cruz é hoje um espinho no pé
de Bolsonaro quando ele pisa nos quartéis.
O general da reserva Augusto Heleno
(Segurança Institucional) é o único sobrevivente da equipe da Kombi. Menos
loquaz, já não acha que “se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão”.
Em muitas organizações há os “amigos do rei” que vão de um lugar para outro. Nesse caso estão Ramos e Lorenzoni, que ganhou a recriação do Ministério do Trabalho. Mesmo assim, qualquer organização com tamanha rotatividade em torno do monarca é um lugar perigoso para se trabalhar.
Dessa dança de cadeiras resulta que a Kombi
dos bolsonaristas tinha motorista, mas não tinha objetivo. Passados dois anos,
continua na mesma, com um motorista que não sabe o destino. Sabe apenas que com
cerca de 550 mil mortos na pandemia de 17,7 milhões de desempregados, deseja
continuar ao volante.
O Haiti não é aqui
Está nas livrarias “Dano colateral — A
intervenção dos militares na Segurança Pública”, da repórter Natalia Viana,
diretora da Agência Pública de Jornalismo Investigativo. É um mergulho na
gênese e nos resultados do reaparecimento dos militares na política. Ela foi do
andar de baixo, falando com soldados, policiais, vítimas e camelôs, ao de cima,
ouvindo ex-ministros, magistrados e generais. Leu processos e presenciou
audiências. Desse acervo resultou o livro, uma reportagem que dá vida a siglas
como GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e Apop (o “agente perturbador da ordem
pública”). Se, durante uma GLO, a tropa mata um Apop, isso resulta num dano colateral.
Ela conta histórias como a de Evaldo que,
num domingo de 2019, ia com a mulher e o filho de 7 anos a um chá de bebê e
morreu quando soldados atiraram contra seu carro. Luciano, que estava por perto
e tentou socorrê-lo, também foi baleado e acabou morrendo. Foram 62 tiros. O
julgamento da patrulha que confundiu o carro de Evaldo com o de bandidos, e
Luciano sabe-se lá com o que, poderá acontecer em julho.
Natalia Viana seguiu 34 outras histórias.
Elas têm um padrão de acobertamento e impunidade. Num caso surgiu a figura da
“legítima defesa imaginária”.
Presidentes com origens tão diversas como
Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro recorreram às GLOs. A mais
espetaculosa (e inútil) foi o “golpe de mestre” de Temer com a intervenção na
segurança do Rio de Janeiro. Nela apareceu a estrela do general Braga Netto,
atual ministro da Defesa.
Natalia Viana disseca processos que acabam
arquivados e conta como ressurgiu a participação militar na segurança. Daí para
a política foi um pulo.
Houve uma mudança na atividade do Exército,
e ela começou com a ida da tropa brasileira para a força de paz da ONU ao
Haiti. Entre 2004 e 2017 passaram por lá 37 mil militares das três Forças. Se
no século passado houve a FEB na Itália, neste há a Minustah do Haiti. Seis de
seus nove comandantes foram para o governo de Jair Bolsonaro. Na Itália, a FEB
combateu um exército. No Haiti, buscava-se manter a ordem. Coisas que se
fizeram em Porto Príncipe, quem sabe poderiam ser feitas no Brasil. Deu no que
deu, e os próprios generais admitiram que as GLOs enxugam gelo. Do Haiti, nem
se fale.
O dispositivo constitucional que permitiu a
militarização de atividades policiais foi concebido pelo general Leônidas Pires
Gonçalves em 1988. Cabe contudo uma ressalva. Leônidas deixou o Ministério do
Exército em 1990 e morreu em 2015. Por experiência própria, não gostava da
ideia de envolver o Exército em atividades policiais. Ele conhecia o perigo
dessa mistura e avisava: “Quartel não tem algemas.”
O mundo de Braga Netto
O general da reserva Braga Netto desmentiu
a notícia das repórteres Andreza Matais e Vera Rosa segundo a qual teria
mandado um recado ao deputado Artur Lira de que a eleição teria voto impresso
ou não haveria eleição.
Tudo bem. Mas no dia 23 de abril do ano
passado, ele desmentiu que o ministro da Justiça, Sergio Moro, estivesse
demissionário.
Estava.
Em fevereiro de 2018, ao assumir a
interventoria na segurança do Rio, Braga Netto disse que havia “muita mídia” em
torno da violência na cidade.
Ainda bem que existem bons repórteres e
“muita mídia”.
Pronto para a festa
Bolsonaro maltrata a Cultura e não há
notícia de que tenha um projeto para o segundo centenário da Independência.
No dia Sete de Setembro de 2022 acordará
com um mico no colo.
Em plena campanha eleitoral, João Doria
festejará o dia em grande estilo no novo Museu do Ipiranga.
Pedro Américo?
Uma boa discussão para o ano do
Bicentenário da Independência:
O quadro Grito do Ipiranga, pintado em 1888
por Pedro Américo, é ou não uma cópia da Batalha de Friedland, do francês
Ernest Meissonier, de 1875?
(Noves fora os brasileiríssimos carros de
bois.)
O mundo de Guedes
Tendo perdido jurisdição sobre o que virá a
ser o novo Ministério do Trabalho, o ministro Paulo Guedes garantiu: “Não muda
nada.”
O perigo mora na possibilidade de ele
acreditar nisso.
Madame Natasha
Madame Natasha quer saber como se entra
para o Centrão e acredita que com o número de desempregados beirando os 15
milhões, Bolsonaro não precisava criar o Ministério do Trabalho e do Emprego.
Bastava falar só em trabalho, porque
emprego mesmo, só quem arrumou foi o doutor Onyx Lorenzoni.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e está procurando
grão-tucanos para apresentar sua última ideia:
Se o tal semipresidencialismo (ou semiparlamentarismo), criado com mão de gato, só entraria em vigor a partir de 2026, que tal aproveitar o pleito do ano que vem para fazer um terceiro plebiscito?
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