domingo, 25 de julho de 2021

Ricardo Noblat - Até onde o Centrão está disposto a ir na companhia de Bolsonaro

Blog do Noblat / Metrópoles

Manobra feita pelo presidente para tentar salvar o seu governo tem data marcada para acabar

Razão para quem merece – no caso, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), que a propósito da chegada do Centrão ao coração do governo, admitiu que “quem é Bolsonaro mesmo” sabia que “para poder governar teria que ser assim”.

Demorou a acontecer, mas está aí. É um jogo que começa a ser jogado com atraso. Zambelli só não explicou por que na campanha de 2018, Bolsonaro preferiu esconder dos eleitores o que estava escrito nas estrelas, o que se daria mais dia ou menos dia.

Em palanque, Bolsonaro referia-se ao Centrão como “a nata do que há de pior no Brasil”. Seu filho Zero Três disse que até gostaria de fotografar cada apoiador do seu pai para conferir na “hora em que o pau comesse” quem o trairia aliando-se ao Centrão.

 “Eu sou do Centrão”, reconheceu Bolsonaro na semana passada. “Eu nasci de lá”. E justificou por que só agora decidiu tirar a máscara:

“Se você afastar esses partidos de centro, sobram 300 votos para mim. Se você afastar cento e poucos parlamentares de esquerda, PT, PC do B e PSOL, eu vou governar com um quinto da Câmara?”

Estelionato eleitoral é quando um candidato promete ou diz coisas durante campanha e, uma vez eleito, faz o oposto. Bolsonaro apresentou-se como o presidente que demoliria o sistema político. O Centrão o que é se não o sistema em seu estado mais puro?

Fará diferença para “quem é Bolsonaro mesmo” descobrir que ele é um estelionatário? Zambelli está certa ao responder que não. Bolsonarista de raiz é como ele e por isso não precisa perdoá-lo. Bolsonarista de ocasião é que pode sentir-se enganado.

Quem não era bolsonarista, mas votou nele só para derrotar o candidato do PT, ou então viajou para não votar em ninguém, ou anulou o voto ou então votou em branco, esse, sim, está arrependido e à procura do que fazer na eleição do ano que vem.

Se satisfeitas as suas vontades, o Centrão garantirá no Congresso os votos que Bolsonaro precisa para não cair antes de completar o mandato. Que o presidente, porém, não lhe peça nada além. Se quiser, peça aos militares, que têm armas, mas não têm votos.

Governo perde a exclusividade do verde e amarelo em atos de rua

Nas manifestações contra Bolsonaro e pelo impeachment dele, apareceu o primeiro cartaz em favor da Terceira Via

Bandeiras vermelhas em grande número assustaram o então governador de Minas Gerais Tancredo Neves quando ele participou em Goiânia no início de 1984 de um dos primeiros comícios por eleição direta para presidente da República.

Vermelho era a cor de partidos de esquerda. E isso poderia irritar, à época, os militares. Meses depois, como candidato a presidente em eleição indireta, Tancredo adotou o branco, com dois traços verde e amarelo, como marca de sua campanha.

Nas manifestações de ontem, embora o vermelho ainda tenha prevalecido, abriu-se espaço para o resgate do verde e amarelo que eram exclusividade até aqui dos atos políticos promovidos pelo presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores.

Gigantescas faixas com essas cores foram estendidas em meio às multidões que ocuparam parte da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, a Avenida Rio Branco, no Rio, a Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, e a Avenida Paulista, em São Paulo.

Com isso, pretendeu-se oferecer mais conforto e atrair pessoas sem nenhuma ou rala identidade com partidos de esquerda. Em Brasília, pela primeira vez, apareceu um cartaz onde estava escrito “Terceira Via”. Que quer dizer: nem Bolsonaro, nem Lula.

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