Folha de S. Paulo
Para Paulo Guedes, o Palácio Capanema é
mais um vale na caixinha eleitoral
O antigo
Ministério de Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema, é o mais
importante monumento arquitetônico construído no Brasil no século 20. Mesmo em
eterna reforma, que se arrasta desde 2014, o edifício está na lista do feirão
de imóveis que o ministro da Economia planeja oferecer à iniciativa
privada. Tombado
pelo Iphan em 1948, três anos após a inauguração, o palácio no abandonado
Centro do Rio pode virar bingo de miliciano ou igreja de picareta. Para Paulo
Guedes, tanto faz, é preciso encher a caixinha eleitoral.
Nos jardins do Capanema, destaca-se o Monumento à Juventude Brasileira, esculpido por Bruno Giorgi em granito de Petrópolis, com quatro metros de altura. Na composição, o casal de jovens caminha em direção ao prédio, o rapaz ligeiramente à frente da moça, representando o futuro do país. Futuro que, se valer a vontade de Bolsonaro, não haverá.
O ministro da Educação, Milton
Ribeiro, voltou
a repetir a cantilena pastoral de que a universidade deveria ser para poucos no
Brasil. E Guedes, não satisfeito com o desastre da reforma trabalhista de
Temer, leva
ao Congresso a minirreforma que troca salário por bolsa, reduz o FGTS,
cria emprego sem vínculo e torna permanente o corte de jornada.
O palácio tem o nome do ministro, mas
poderia ter o de Carlos Drummond de Andrade, que ali trabalhou por quase 30
anos. Foi o poeta que sugeriu a Capanema abandonar o projeto do catedrático
Archimedes Memória e convidar Lúcio Costa para elaborar novo plano, do qual Le
Corbusier foi consultor e Oscar Niemeyer, idealizador do desenho final, que
incorpora o pilotis à cidade, fazendo do espaço entre as colunas um passeio
público.
O Capanema foi erguido onde ficava o morro
do Castelo, botado abaixo. O escandaloso leilão de agora lembra a derrubada do
Palácio Monroe, ex-Senado Federal, pelo regime militar. Como falou o Arthur
Dapieve, é a arquitetura da destruição.
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