Correio Braziliense
O negacionismo utiliza os
preconceitos e o senso comum para construir teorias conspiratórias. A
manipulação da informação explora a boa-fé e a ignorância
Por definição, negacionismo é o ato de
negar uma informação estabelecida em bases científicas, ou seja, amplamente
estudada e comprovada. Suas características são a manipulação de informações, a
utilização de falsos especialistas e as teorias conspiratórias. O negacionista
assume uma postura irracional e ideológica, prefere acreditar em informações
falsas e sem comprovação, despreza ciência e refuga as verdades inconvenientes.
Na ciência, destacam-se o negacionismo do aquecimento global e o da
esfericidade terrestre; na História, o do Holocausto. O Brasil vive uma onda
negacionista, liderada pelo presidente Jair Bolsonaro e filhos.
O negacionismo utiliza os preconceitos e o senso comum para construir teorias conspiratórias. A manipulação da informação é fundamental, geralmente por falsos especialistas, que exploram a boa-fé e a ignorância. Com o advento das redes sociais, utiliza-se em larga escala das fake news, formando grandes correntes de propagação de mentiras. São teses negacionistas:
1. Gripezinha —
desde o começo da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro adotou uma política
negacionista em relação à gravidade da pandemia da covid-19 e defendeu a
chamada “imunização de rebanho”, cuja consequência foi o descontrole sobre a
propagação da doença. O número de mortos se aproxima de 600 mil.
2. Cloroquina — em
vez de providenciar a imunização em massa da população, Bolsonaro defendeu o
uso indiscriminado de um “coquetel” ineficaz contra a doença, formado por
hidroxi- cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina, vitamina D e
zinco. Uma CPI no Senado investiga a máfia que se formou no Ministério da Saúde
para ganhar dinheiro sujo com a pandemia.
3. Vírus chinês —
nas redes sociais, disseminou-se a tese de que o novo coronavírus, de
procedência chinesa, teria sido produzido em laboratório e propagado
propositalmente pela China para prejudicar a economia mundial, no contexto da
guerra comercial com os Estados Unidos. A tese provocou um incidente
diplomático com a China.
4. Coronavac — a
eficácia da vacina produzida pelo Instituto Butantan ainda é questionada por
Bolsonaro, muito embora tenha sido a principal alternativa para conter a
pandemia. Nesta semana, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ao anunciar
a terceira dose das vacinas, excluiu a CoronaVac, muito embora milhões de
brasileiros tenham sido imunizados pelo produto de origem chinesa.
5. Voto impresso —
Bolsonaro defende o voto impresso e dissemina a tese de que a urna
eletrônica não é confiável, levantando suspeitas sobre a lisura das eleições de
2022, embora nunca tenha sido comprovado um caso sequer de violação da urna
eletrônica. A proposta foi rejeitada pela Câmara, por ampla maioria, além de
contestada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
6. Poder moderador —
o artigo 142 da Constituição de 1988 estabelece que “as Forças Armadas (…)
destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos Poderes constitucionais e, por
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Com base nesse artigo,
Bolsonaro atribui aos militares o papel de Poder Moderador, que não existe na
Constituição, cuja interpretação cabe ao Supremo, e não ao “comandante supremo”
das Forças Armadas.
7. Amazônia — o
desmatamento da Amazônia é monitorado por instituições científicas de todo o
mundo, sendo um dos fatores de aquecimento global, em consequência de
atividades ilegais, como grilagem de terras, queimadas, derrubada da floresta,
garimpo etc. Bolsonaro defende a exploração indiscriminada da Amazônia e acusa
as ONGs ambientalistas de estarem a serviço de potências estrangeiras.
8. Marxismo cultural
— os artistas, os intelectuais e a cultura estão sendo perseguidos pelo governo
federal, a pretexto de que seriam agentes do chamado “marxismo cultural”. O
cinema, o teatro, a música, as artes plásticas e até a memória cultural, hoje,
são sufocados pelos dirigentes dos órgãos culturais.
9. Racismo
estrutural — a Fundação Palmares, criada para preservar e valorizar a cultura
afrobrasileira e promover políticas afirmativas de combate ao racismo, nega o
racismo estrutural. Tornou-se um órgão que não reconhece as comunidades de
origem quilombola e combate o movimento negro, cujos líderes históricos renega,
como Zumbi dos Palmares.
10. Terras indígenas
— o governo promove o desmonte da política indigenista, reconhecida
internacionalmente e responsável pela sobrevivência da diversidade étnica das
comunidades indígenas. A tese básica é de que há muita terra para poucos índios
e de que a cultura indígena não tem nenhum valor civilizatório.
11. Diversidade — o
presidente da República não reconhece e menospreza a diversidade de gênero e de
orientação sexual. A comunidade LGBTQIA+ (qualquer pessoa não heterossexual ou
não cisgênero, ou fora das normas de gênero pela sua orien- tação sexual,
identidade, expressão de gênero ou características sexuais) sente-se ameaçada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário