Folha de S. Paulo
Em 1945, o Exército não permitiu que
Getulio usasse sua polícia para continuar no poder
O Exército Brasileiro já foi mais cioso de
sua autoridade junto às forças subalternas —a PM, por exemplo. Afinal, embora
circule por aí a bordo de jipes e com trabucos no cinto, ela não passa de uma,
literalmente, segunda divisão, não? E seus comandantes não têm cacife para
dar palpite em
política, já que isso é vedado aos próprios oficiais das forças
superiores. Entende-se que, se um PM puder convocar manifestações de rua em
um 7 de Setembro,
um vendedor de biscoito Globo também poderá ordenar o corneteiro do batalhão a
tocar “Alá-Lá-Ô” em vez da alvorada.
Em 1945, o ditador Getulio Vargas, tramando melar as eleições presidenciais marcadas para aquele ano e continuar no trono, nomeou seu irmão Benjamim Vargas (1897-1973), o notório Bejo, para a Chefia de Polícia do Distrito Federal, então no Rio. Cargo equivalente, hoje, ao de um hipotético comandante nacional da PM, só abaixo do ministro da Guerra e do chefe do Estado-Maior.
Todos conheciam Bejo Vargas pela
cafajestice. Ia aos cassinos, punha o revólver sobre o pano verde e apostava
—e, incrível, seu número sempre dava na boca do caixa. Chegava aos lugares
falando alto, urinava em público, fazia propostas a mulheres acompanhadas e, se
o marido ou noivo protestasse, ele mandava surrar. Até os Vargas diziam que
Bejo “saíra direto do pasto para Copacabana, sem ter tido tempo para se
civilizar”. E, claro, recebia “favores” de todos os que levava a seu irmão no
Catete.
Quando Getulio o nomeou chefe de Polícia, o
Exército viu ali o uso evidente de uma força armada para garantir o
continuísmo. Era preciso agir. Com dois dias de articulações, os generais Goes
Monteiro e Eurico Gaspar Dutra depuseram Getúlio e deram fim ao Estado Novo.
Vieram as eleições, vencidas por Dutra, e a Constituinte de 1946.
Além de irmão do ditador, Bejo era também
oficial do Exército. Mas jogava as instituições na rua, e isso o Exército não
tolerou.
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