Proposta que foi articulada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi aprovada apenas em parte e será promulgada
O Estado de S. Paulo
Daniel Weterman / Camila Turtelli / O
Estado de S. Paulo
O Senado aprovou a Proposta de Emenda à
Constituição com mudanças eleitorais, mas rejeitou o retorno das coligações em
eleições para o Legislativo, que havia passado na Câmara e era uma
reivindicação dos pequenos partidos. Outro ponto vetado pelo Senado é o que
estabelecia que decisões do STF e do TSE sobre processo eleitoral teriam de ser
tomadas, no máximo, um ano antes para valer no pleito seguinte.
O Senado aprovou ontem Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) com mudanças eleitorais, mas rejeitou o retorno das
coligações em eleições para o Legislativo. O novo texto foi aprovado por 70
votos a 3 no primeiro turno e 66 a 3 na segunda etapa de votação. A aprovação
de apenas parte da PEC original, sem possibilidade de nova votação pelos
deputados, reduziu o impacto do projeto. Os senadores contiveram a iniciativa
do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), que foi derrotado.
Desidratada de pontos que não eram consensuais e atendiam a interesses dos deputados, a proposta aprovada ficou mais restrita. O Senado ainda terá de examinar outra proposta de modificações eleitorais mandada pela Câmara sob a liderança de Lira. Ela unifica a legislação das eleições em um único código. Com mais propostas controversas, como a censura a pesquisas eleitorais e o afrouxamento de punições a transporte de eleitores e boca de urna, a proposição tem pouca chance de ser votada até 2 de outubro, para vigorar para a eleição de 2022. Na semana passada, a avaliação entre senadores era que o mais provável seria que as mudanças valessem em 2024.
Um dos pontos que animaram alguns senadores
a tentar tratar do código já visando à disputa de 2022 é a quarentena de quatro
anos na inatividade para juízes e militares que queiram concorrer a cargos
eletivos. Um dos defensores desse aspecto e defende a votação dessa proposta é
Renan Calheiros (MDB-AL).
Na parte da PEC que passou, o texto
determina o aumento dos recursos públicos para partidos que conseguirem mais
votação para candidatos negros e mulheres a partir do ano que vem. O mecanismo
aprovado ordena que cada voto nesses políticos valerá o dobro para a concessão
de verbas dos fundos Eleitoral e Partidário de 2022 a 2030. A ideia é estimular
candidaturas grupos sociais considerados subrepresentados na política
brasileira.
A PEC aprovada também inclui na
Constituição a regra de fidelidade partidária. A norma determina a perda do
mandato de deputados e vereadores que se desligarem do partido sem justa causa
ou aval do partido. Também altera de 1 para 5 de janeiro a posse de presidente
da República e para 6 de janeiro a posse de governadores, mas só a partir da
eleição de 2026. Também institui que os plebiscitos para projetos aprovados em
câmaras de vereadores sejam feitos no mesmo dia das eleições municipais.
O texto prevê ainda que as sanções
aplicadas pela Justiça Eleitoral para dirigentes de um partido político não são
transferidas para dirigentes de outras legendas quando há fusão de siglas. Após
a aprovação, a PEC seguirá agora para promulgação pelo Congresso Nacional.
Coligações barradas. A retirada das
coligações do texto foi uma sugestão da relatora da PEC no Senado, Simone Tebet
(MDB-MS), em parecer aprovado na véspera na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ). A parlamentar argumentou que esse tipo de aliança distorce o sistema
proporcional, por permitir que partidos menores, com menos votos, elejam
representantes com votação de partidos maiores. Também deturpa, segundo a senadora,
a vontade do eleitor, cujo voto em um concorrente pode eleger outro, de legenda
coligada e ideologia oposta. E, afirmou ela, leva à fragmentação partidária,
estimulando a proliferação de partidos.
O retorno das coligações, porém, era uma
reivindicação de partidos pequenos. Para eleger mais parlamentares, essas
legendas dependem das alianças. Suas chapas ao Legislativo têm poucos votos,
embora alguns candidatos sejam bem votados. Também há a questão financeira:
candidatos de legendas maiores às vezes ajudam a pagar campanhas de candidatos
de partidos pequenos, de olho nos votos.
A proibição de coligações proporcionais
vigorou pela primeira vez em 2020. Em consequência, houve proliferação de
candidaturas ao Executivo, para “puxar” votos para o Legislativo. Alguns
partidos se queixaram de dificuldade para financiar suas campanhas. Legendas
consideradas ideológicas, como Rede, PCDOB e Cidadania, estão entre as
ameaçadas de perder cadeiras e até de, em um futuro próximo, não conseguir
sobreviver.
O Senado também rejeitou mais duas
propostas que constavam do texto da PEC enviado pela Câmara. Uma estabelecia
que decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) sobre processo eleitoral teriam de ser tomadas, no máximo, um ano antes
para valer no pleito seguinte. Outra criava a possibilidade de tramitação de
projetos de iniciativa popular com no mínimo 100 mil assinaturas.
A relatora, porém, considerou esse número muito baixo. Hoje, a Constituição exige pelo menos 1% dois eleitores. Isso equivale a 1,5 milhão de assinaturas.
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