quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Vinicius Torres Freire - Pacote eleitoreiro está encrencado

Folha de S. Paulo

Não vai ser fácil fazer gambiarras fiscais e econômicas para 2022

Jair Bolsonaro tirou uns dias de férias de sua ocupação principal, que é fazer campanha de reeleição e de golpe. Talvez um dos motivos da folga, do “recuo”, seja a necessidade de fazer arranjos para 2022, gambiarras fiscais e econômicas que o ajudem a conseguir uns pontos extras de popularidade. Não vai ser fácil, mesmo com mutreta orçamentária ou maluquice fiscal com apoio do ministério da Economia.

Outro motivo das férias golpistas é esperar para ver se o Supremo vai aliviar as dívidas da família com a Justiça. Um terceiro, talvez, é obter algum apoio no Senado, que vem derrubando um ou outro avanço que o governo consegue na Câmara colaboracionista de Arthur Lira (PP-AL). Não está fácil também: Rodrigo Pacheco (DEM-MG) devolveu a medida provisória das “fake news”.

Além das mutretas orçamentárias a fim de aumentar despesas que rendam alguns pontos nas pesquisas, Bolsonaro e seus apaniguados cozinham providências de apelo popular. No final de semana, liberou o aumento do número de pessoas que podem pagar tarifa social de energia, um caraminguá que pode beneficiar um décimo do eleitorado, pelo menos. Nesta semana, divulgou o projeto de dar subsídio para que militares, policiais e guardas comprem casa própria, o que não tem alcance lá muito significativo, em números, mas satisfaz em parte o rebanho nos quarteis.

Seu governo ou “seu banco” (a Caixa) prometem explicar em breve um programa de microcrédito para dezenas de milhões —como não se sabe do que se trata, não é possível dizer nem se terá efeito político relevante. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, também prometeu baixar a taxa de juros para financiamento de residências, agora, que as taxas nos bancos privados estavam para subir. Já vimos isso antes.

Bolsonaro precisa arrumar algum dinheiro no Orçamento para ao menos engordar o Bolsa Família e para pagar o aluguel do centrão, emendas parlamentares. Precisa, pois, de um arranjo com o Supremo ou também com o Senado para dar um calote provisório nessa despesa extra de uns R$ 30 bilhões em 2022 ou decretar que parte da despesa com precatórios é “extrateto”, não estoura o limite legal anual de gasto.

Ainda que passe essa gambiarra, a inflação em alta tem aumentado a despesa prevista para 2022 (o gasto com reajuste de benefício da Previdência, por exemplo, cresce). Logo, mesmo com mutreta nos precatórios, vai faltar dinheiro eleitoral. É possível, então, que o governo tente ao menos prorrogar o auxílio emergencial por meio de abertura de “crédito extraordinário” (despesa imprevista, extrateto), o que pode dar em rolo jurídico.

Mas é pouco. O governo pode tentar mutreta maior. De qualquer modo, mesmo as gambiarras já previstas vão amolar os credores do governo, que vão cobrar juros mais altos pelos empréstimos ou também dar o fora do país (encarecendo o dólar). Os credores, boa parte de “o mercado”, podem se amolar com outras perdas de receita.

Até o ministério da Economia diz, em público, que não tem problema o governo perder quase 0,5% do PIB em arrecadação, como pode acontecer caso passe no Senado esse monstrengo do IR. Para os esquisitos economistas de Bolsonaro, o governo estaria “devolvendo recursos para a sociedade” em um momento em que a receita de impostos tem vindo acima do esperado. Se um governo com déficit cobra menos imposto, vai ter de pegar mais empréstimos, fazer mais dívida e, pois, pagar mais juros aos mais ricos. Sim, no pensamento desejante dessa direita, baixar impostos pode estimular o crescimento, tanto que a receita cresce de modo a compensar a perda. Já vimos isso antes também.

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