Revista Veja
Doria conta com vitória sabendo que
dirigentes do PSDB trabalham contra ele nas prévias
O governador João Doria faz jus ao seu
estilo e se vale do perfil confiante para considerar como mera impressão o
cenário em que o adversário Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul,
representaria grave ameaça aos seus planos de vencer as prévias marcadas para o
próximo dia 21 de novembro e, assim, concorrer à Presidência da República pelo
PSDB.
Os adeptos da postulação do paulista
atribuem o crescimento (aparente, segundo eles) do gaúcho a duas razões: o
trabalho contra João Doria feito pelos dirigentes — incluídos aí vários
integrantes do tucanato tradicional, de “raiz” — e o esforço de Eduardo Leite
na conquista de visibilidade para se firmar como figura de relevância nacional.
Na visão dos defensores de Doria, esses
fatores asseguram posição de destaque para Leite no noticiário político, mas
não alteram a preferência interna pelo candidato deles, que hoje contabiliza
uma dianteira de 64% a 34% em relação ao principal oponente. O terceiro
concorrente, o ex-prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgílio Neto
(simpático a Doria), nessa conta estaria com cerca de 2% dos votos.
Mesmo que esses números correspondam à realidade, ainda assim surpreende que um terço do partido se mostre disposto a escolher a candidatura de um novato em detrimento de alguém, como o governador de São Paulo, que é conhecido, tem uma gestão bem avaliada e, sobretudo, atuou em favor da vacinação, obrigando o governo federal a sair do negacionismo e abraçar a causa da imunização.
No Palácio dos Bandeirantes a avaliação inicial era a de que tais ativos seriam suficientes — e, mais, determinantes — para atrair apoios e conquistar uma vitória fácil. Os obstáculos, no entanto, surgiram e foram maiores que os previstos com a entrada em campo da “oposição”.
Para citar apenas os mais vistosos
personagens dessa ofensiva, temos o deputado Aécio Neves (desgastado
externamente, controla o partido em Minas Gerais e exerce forte influência na
direção nacional), o senador Tasso Jereissati e o ex-governador Geraldo
Alckmin, que atrasa sua saída do PSDB para poder trabalhar contra Doria nas
prévias, ajudando Eduardo Leite a abrir flancos em São Paulo.
Diante disso, o grupo do governador
paulista reage com certa frieza. Alega que os dirigentes não terão a mesma
influência de antigamente, quando as candidaturas tucanas eram decididas em
jantares de cúpula. Valerá, segundo esse pessoal, o esforço de convencimento
dos votantes: vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores,
dirigentes locais e filiados.
João Doria adotou como estratégia não
atacar o adversário. Isso em público, porque nos bastidores a conversa não é
amena. “Quem tem a certeza da vitória não pode desqualificar o oponente, pois
vai precisar dele depois. A opção pelo ataque é atitude de perdedor”, diz um
dos ativos formuladores da campanha do paulista já alfinetando Eduardo Leite,
que tem sido duro e direto nas críticas a Doria.
Nas internas, o colégio eleitoral tucano
tem ouvido que não vale a pena votar no gaúcho agora porque, além de
excessivamente jovem (36 anos), ele não teria a intenção real de se candidatar
à Presidência, estando mesmo propenso a fazer o jogo de dois de seus
apoiadores, Tasso Jereissati e Aécio Neves.
Por essa versão, o senador cearense estaria
mais interessado em fazer de Eduardo Leite candidato a vice na chapa de Ciro
Gomes e o deputado mineiro empenhado em deixar o PSDB de fora da disputa
presidencial, a fim de empregar o dinheiro do Fundo Eleitoral nas campanhas de
candidatos à Câmara.
Como “prova”, o grupo de Doria aponta aos
eleitores internos as frequentes declarações do governador do Rio Grande do Sul
sobre a possibilidade de desistência para facilitar a composição de alianças
com outras forças do centro. Ocorre, porém, que a certeza de que o paulista não
abriria esse espaço de negociação é um dos fatores favoráveis a Leite no
ambiente fora do PSDB, onde começará o jogo para valer logo após as prévias.
A turma do Bandeirantes sabe das
dificuldades, não nega a existência de rejeição a João Doria no mundo político
e no universo do eleitorado, mas acha que supera isso quando os êxitos da
gestão forem postos na vitrine, os ganhos da vacinação puderem ser mais bem
explorados e a bandeira de “reconstrução do país para a retomada dos empregos”
for levantada como ideia força da campanha à Presidência.
Publicado em VEJA de 3 de novembro de 2021, edição nº 2762
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