Revista Veja
Uma coisa é certa: 2022 não será um ano fácil para Jair Bolsonaro
Com 19 milhões de brasileiros com fome, não
se discute que a renovação do auxílio emergencial é necessária. Também não se
discute de onde o dinheiro deveria vir: das emendas do orçamento secreto que
Arthur Lira e Ciro Nogueira pilotam. Mas Bolsonaro, temendo desagradar ao
Centrão, que o mantém na cadeira, achou que furar o teto era uma boa
alternativa. A PEC dos Precatórios, turbinada com o jabuti do auxílio, criará
um rombo de até 95 bilhões de reais.
A proposta nem foi aprovada ainda, mas o
estrago já está feito: dólar, juros e inflação muito mais altos do que o
previsto. O presidente dará com uma mão, tirará com a outra e enfrentará uma
campanha eleitoral com a crise econômica muito agravada.
Não há sequer garantia de que a proposta será aprovada. Noves fora o permanente interesse dos parlamentares em abrir espaço para as emendas de relator (até porque é ano eleitoral), uma emenda constitucional exige dois terços dos votos no Congresso, a oposição busca caminhos para barrar, o Senado nunca dá vida fácil ao presidente e Rodrigo Pacheco é candidato ao Planalto.
Não está claro o quanto Bolsonaro ganhará
com um auxílio conseguido em troca de sacrificar o teto. Segundo pesquisa
recente da Genial/Quaest, a medida é controversa: 44% são contra e 42%, a
favor, e agrada aos bolsonaristas e desagrada aos antibolsonaristas na mesma
proporção. Bolsonaro pode ter criado sérias dificuldades econômicas para si
mesmo em troca de nada.
“Não está claro o quanto o presidente
ganhará com um auxílio conseguido em troca de sacrificar o teto”
O relatório da CPI joga ainda mais lenha na
fogueira. Augusto Aras não pode se fingir de morto (como Arthur Lira,
olimpicamente, fará): ele tem trinta dias para informar que medidas tomou. É de
esperar que proteja Bolsonaro e, para reduzir a pressão, investigue e denuncie
outros. O assunto estará no noticiário, mantendo pressão contínua sobre
Bolsonaro, durante toda a campanha eleitoral. E se Aras acabar por denunciar o
presidente, o que não é impossível, aí o desgaste é incomensurável.
Na frente digital, o projeto de lei
das fake news, a ser
aprovado em breve, cria sérios entraves para a principal ferramenta eleitoral
bolsonarista: a desinformação. As redes serão reguladas, e aquelas que não operam
no Brasil — como o Telegram, favorito dos bolsonaristas — podem até ser
banidas. Antes mesmo da promulgação da nova lei, a insistência nas fake news golpistas vem
ficando mais cara. Allan dos Santos está sendo procurado pela Interpol e Zé
Trovão acaba de se entregar à PF; vão fazer companhia a Roberto Jefferson e
Daniel Silveira (leia a
reportagem na pág. 30).
Até o panorama externo pode trazer
dificuldades para Bolsonaro. O Brasil vai à COP26, uma conferência ambiental,
com a insana proposta de aumentar as emissões de carbono: depois desse vexame,
o risco de sanções comerciais internacionais aumentará significativamente.
Somem-se a isso as dificuldades para exportar carne para a China, que não estão
resolvidas. O agronegócio é um dos redutos do bolsonarismo, e a queda repentina
na exportação pode afetar diretamente a sua popularidade (sem falar dos
problemas de praxe: queda no crescimento e na arrecadação, alta do dólar e da
inflação). Em um cenário de muita incerteza, uma coisa é certa: 2022 não vai ser
um ano fácil para Jair Bolsonaro.
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