Valor Econômico
“São corridas diferentes”, diz Vieira sobre
Moro
Diante da rápida ascensão do ex-juiz Sergio
Moro nas pesquisas sobre a sucessão presidencial, o pré-candidato a presidente
pelo Cidadania, senador Alessandro Vieira (SE), nega a intenção de retirar o
nome da disputa pela vaga de presidenciável que representará a terceira via.
Ambos se projetaram na cena nacional pelo
combate à corrupção e atuação na segurança pública.
Moro comandou a Operação Lava-Jato, mas
depois foi julgado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Como ministro
da Justiça do governo Bolsonaro, reacomodou chefes de facções em presídios
diferentes, desarticulando organizações criminosas.
Como delegado, Alessandro Vieira chefiou a Polícia Civil de Sergipe. Ele desbaratou um esquema de desvio de recursos públicos, incomodou aliados do governo local e acabou exonerado da função. Ganhou projeção na cena nacional pela atuação na CPI da Covid.
“Eu e o Moro temos um ponto de partida
parecido, mas estamos em estágios diferentes de formação política”, disse
Vieira à coluna. Ele vai completar três anos de mandato, adquiriu vivência
parlamentar e desenvolveu outra percepção da política. “Já é um ponto de
distância do momento que ele está vivendo agora”, delimitou.
Em contrapartida, Vieira reconhece que Moro
está em outro patamar de visibilidade. Segundo ele, compatível somente com a de
outros presidenciáveis, como Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes (PDT). Os perfis se
assemelham, mas “são corridas diferentes”.
Ambos são aliados. Vieira conversa de três
em três dias com Moro. O senador nega desconforto com o jantar oferecido na
última semana pelo líder do Cidadania, deputado Alex Manente (SP) ao ex-juiz.
Cinco dos sete deputados federais da legenda participaram. Mas os três
senadores da bancada, e o presidente do partido, Roberto Freire, não
compareceram.
“Fui avisado [do jantar], e alguns desses
deputados sequer estarão no Cidadania no ano que vem. Eu gosto das coisas
sempre muito claras: se não faz sentido a caminhada no partido, não faz sentido
trabalhar pelo pré-candidato do partido”, diz o senador.
Nas trocas de telefonemas com Moro, Vieira
diz que conversam sobre o início de caminhada política do magistrado. “Moro
anunciou o [Affonso Celso] Pastore como mentor econômico, é um excelente nome.
Mas eu sugeri que ele procure gente que olhe para a redução da desigualdade
também, porque na construção do Brasil que a gente quer, tem que estar esse
tema”.
Vieira também sustenta que Moro e os
defensores da Lava-Jato não devem abandonar a defesa da operação, que teve
decisões e provas anuladas pelo STF. “O defensor do petismo encontrou um álibi
de que a Lava-Jato foi suspeita”, criticou. “Então vamos esquecer a Lava-Jato,
e falar do Mensalão, processo completo, com condenações de toda a cúpula
partidária por compra de base eleitoral, que é o que o Bolsonaro está fazendo”,
criticou.
Alessandro Vieira também mantém diálogo com
outros presidenciáveis, e cita a senadora Simone Tebet (MDB-MS), com quem
compartilhou os holofotes da CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique
Mandetta (DEM), e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de cuja
postulação desconfia: “não acredito que ele leve esse projeto adiante”.
Vieira alerta que diante do quadro de
destruição generalizado em vários setores do governo, será preciso “muita
composição” entre as forças políticas, até definirem um projeto de reconstrução
do país em comum, e quem vai liderar a terceira via.
Para Alessandro Vieira, Sergio Moro
preenche a lacuna do combate à corrupção, que identificou em outros
pré-candidatos. Contudo, diz que o ex-juiz revela-se “incipiente” em outros
setores, como a educação e desigualdade social.
Nesse quesito, Vieira acredita se destacar
porque tem atuado nessas áreas. É vice-presidente da frente parlamentar da
educação, e exerce a mesma função na frente parlamentar da renda básica.
Foi relator do projeto que assegurou
repasse de R$ 3,5 bilhões para ampliar o acesso à internet dos alunos da rede
pública. Teve emendas aprovadas no substitutivo da medida provisória de criação
do Auxílio Brasil.
Vieira também é um dos articuladores de um
texto alternativo à PEC dos Precatórios. “O governo patrocina uma emenda que
desorganiza o teto de gastos, cria um mercadão paralelo de precatórios, tudo o
que não é razoável para quem tem um projeto econômico robusto de país”,
criticou.
“A etapa que estamos vivendo na corrida
eleitoral é de apresentação de perfis e de projetos. A gente vai testar isso, e
avançar na maratona”.
Alckmin
Declarações do ex-governador Geraldo
Alckmin, de saída do PSDB, ontem a sindicalistas animaram entusiastas da chapa
em que ele desponta como vice do ex-presidente Lula. “Essa hipótese caminha”,
afirmou. Mas a corrida tem mais obstáculos, além do dilema do quase ex-tucano.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira -
partido que receberia Alckmin -, voltou a afirmar que para a chapa vingar,
antes vem o acerto com o PT. “Não podemos resolver essa questão isolada de
outras muito importantes”. O PSB não abre mão do apoio do PT à candidatura de
Márcio França ao Palácio dos Bandeirantes.
Em outra frente, o presidente do
Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), liderança da Força
Sindical, considera a “ideia boa”, mas prematura. Diz que escolha de vice é
pauta para maio ou junho do ano que vem.
Paulinho é enfático de que Alckmin deveria
se filiar a uma legenda do centro político. “O Lula já tem a esquerda. Minha
função é levar o Lula para o centro para ganhar no primeiro turno”, afirmou à
coluna.
Questionado se a biografia de Alckmin em si
não bastaria para alçar a candidatura de Lula ao centro, o líder do
Solidariedade discorda. “Se eu pudesse orientar, diria para o Alckmin ir pro
PSD ou MDB”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário