Folha de S. Paulo
Garimpo avança porque não teme os Poderes e
conta com cobertura do tráfico
Faz muito tempo que eu denunciava, quase
solitariamente, a atividade
criminosa e poluidora do garimpo
no rio Madeira, inicialmente na parte que banha Rondônia: mercúrio para
"lavar" o ouro; assassinatos de mergulhadores que descobriram veios e
que não são investigados seriamente. Vidas que nunca importaram.
Outros delitos se agregam ao garimpo
ilegal: lavagem de dinheiro e sonegação, grilagem de terras indígenas,
cumplicidade com desmatadores,
início de "construção"
de uma Serra Pelada nas águas de um rio piscoso, caudaloso e destinado
a, no futuro próximo, junto aos demais grandes rios da Amazônia, abastecer o
mundo de água doce, potável e de facílima extração. Quem sabe nossas águas
virarão produto de exportação! Quem sabe os países amazônicos constituirão a Opep
das águas!
O garimpo tem sido tolerado e até estimulado pelo governo Jair Bolsonaro. Resultado: a ousadia dos infratores, criminosos impunes, foi crescendo ao ponto de terem descido o rio Madeira para ocupá-lo, praticamente de uma margem a outra, em frente à cidade de Nova Olinda do Norte (AM). Que audácia: sentaram praça a apenas 25 minutos de voo de Manaus. São agora "vizinhos" do aparato de segurança do estado do Amazonas. Vizinhos igualmente da Polícia Federal, do Poder Judiciário e, sobretudo, do povo de Manaus —além, obviamente, de Nova Olinda do Norte, de Novo Aripuanã (AM), com penetração ainda incipiente, e de Autazes (AM), banhada pelos rios Madeira e Amazonas, este o maior do planeta.
Trata-se de um desafio claro ao governo
federal —ou de demasiada confiança no que pode ser a cumplicidade dos dois
setores: um, institucional; o outro, marginal. Se o primeiro primasse pela
seriedade e pela autoridade justa, o desmonte desse acinte já teria ocorrido
"manu militari". Se o garimpo
avança tanto, é porque não teme o poder formal e porque conta com a
cobertura do tráfico de drogas, que controla boa parte do Amazonas.
Esse quadro não pode persistir. Não
bastasse o desmatamento avassalador de uma floresta que é irmã siamesa dos
grandes rios, pretendem agora conspurcar as águas, como se houvesse (?) uma
conspiração contra a riqueza trilionária da biodiversidade e da água que cada
vez mais faltará para o mundo. Parece uma trama sórdida a favor do aquecimento
global. Contra um planeta, ao fim do século, inóspito demais para nossos
descendentes o habitarem.
Nessa toada, o Brasil se arrisca a sofrer
uma intervenção militar estrangeira, autorizada pela ONU e tirando do nosso
povo a perspectiva de prosperar com a floresta em pé, rendendo recursos para
acabar com a pobreza e a fome do Acre ao Rio Grande do Sul. Querem matar a
galinha dos ovos de ouro. A incompetência e a má-fé se coligam para condenar o
futuro dos amazônidas e de todos os brasileiros. Pena mesmo!
Nosso povo e todas as nações não merecem o esbulho, a traição e a destruição da maior floresta do planeta e dos rios dadivosos que precisam respirar e ganhar a respeitabilidade internacional —parte da grandeza das nações vitoriosas e justas.
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