Folha de S. Paulo
É mais fácil prever o que vai acontecer no
longo prazo do que no curto
A ômicron já está entre nós e se espalha rápido. O impacto que ela terá em termos de
morbimortalidade ainda é incerto. Curiosamente, é mais fácil prever o que
vai acontecer no longo prazo do que no curto.
Em mais dois ou três anos, a Covid-19 deverá ser uma doença endêmica. São dois os mecanismos que podem fazer com que isso ocorra. O mais polêmico deles é redução da patogenicidade do vírus. Na prancheta dos biólogos, doenças cujo vetor de transmissão seja humano podem sofrer pressão seletiva para tornar-se menos virulentas. Num contexto em que diferentes cepas de um patógeno disputam a mesma população, leva vantagem competitiva, tudo o mais constante, aquela que provoca quadros menos graves, que permitam ao vetor continuar circulando e disseminando a moléstia.
O problema com esse mecanismo é que ele é
bem teórico. A realidade tende a ser caótica e o "coeteris paribus",
o "tudo o mais constante", quase nunca se materializa. Vários
elementos podem anular ou relativizar a pressão seletiva pela menor virulência.
No caso da Covid-19, basta lembrar que a transmissão começa antes da eclosão
dos sintomas.
Menos polêmico é o aumento da imunidade.
Ele é real e já o vimos em ação. Foi a combinação de vacinação com infecções
naturais que fez com que a passagem da variante delta pelo Brasil fosse menos
letal do que muitos antecipavam. Como o vírus não vai parar de sofrer mutações,
a imunidade não é perfeita. Os anticorpos neutralizantes, os que impedem que
alguém se infecte, tendem a ser efêmeros e específicos. Deixam de funcionar bem
mesmo com alterações menores no material genético do vírus. Mas há outros tipos
de anticorpos e a imunidade celular. Eles não driblam as infecções, mas
conseguem fazer com que o corpo reaja rapidamente a elas, evitando
hospitalizações e óbitos.
Em mais alguns anos, a Covid-19 será só mais uma gripezinha. Até lá, vacine-se e proteja-se.
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