O Globo
Depois que o Supremo Tribunal Federal
proibiu o governo de ignorar o passaporte da vacina, Jair Bolsonaro encontrou
outra forma de sabotar a saúde pública. Lançou uma cruzada contra a imunização
de crianças, que já está avançada na Europa e nos Estados Unidos.
A Anvisa aprovou na semana passada a
vacinação da faixa de 5 a 11 anos de idade. Em vez de comemorar a notícia, o
presidente passou a atacar os técnicos da agência. Ameaçou divulgar seus nomes
na internet, numa clara tentativa de intimidação.
Não satisfeito, o capitão inventou duas exigências para aplicar a vacina: autorização dos pais e receita médica. A primeira não faz sentido, porque as crianças não iriam sozinhas aos posto de saúde. A segunda pune as famílias mais pobres, que não têm um pediatra ao alcance do celular.
Na prática, Bolsonaro só quer criar tumulto
e atrasar a imunização infantil. Para isso, conta com o apoio de Marcelo
Queiroga. O ministro marcou uma consulta pública sobre o tema para 5 de
janeiro. Criticado pela demora, respondeu com deboche: “A pressa é inimiga da
perfeição”.
Queiroga virou um Eduardo Pazuello de
jaleco. O general também fazia piada ao ser cobrado pela inércia do Ministério da
Saúde. “Para que essa ansiedade, essa angústia?”, ironizou, às vésperas do
Natal de 2020.
Entre a autorização da Anvisa e a consulta
empurrada para janeiro, o Brasil perderá três semanas. Um tempo precioso para
proteger as crianças da variante Ômicron, que já se tornou dominante em outros
países e agora se alastra pelo Brasil.
As principais entidades científicas já
alertaram que a imunização das crianças precisa começar “imediatamente”.
Bolsonaro não esta nem aí. Atacou a vacina e foi para o litoral paulista, onde
já se deixou filmar dançando funk e passeando de jet ski.
Enquanto o capitão insiste no negacionismo,
líderes responsáveis correm para salvar vidas. Na terça, Joe Biden foi à TV
pedir que nenhum pai deixe de vacinar os filhos. Ele afirmou que tomar a vacina
é um “dever patriótico” de todo americano.
Em menos de dois meses, os EUA já
imunizaram 6 milhões de crianças entre 5 e 11 anos. O Brasil, nenhuma. A
diferença mostra a falta que faz um presidente.
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