Caso as coligações sejam aprovadas não
retornaremos ao status quo anterior à reforma
Há três erros interpretativos em relação à
reforma política. O primeiro é que seria produto da ação de legendas de
aluguel. O segundo é que o distritão seria apenas um bode na sala para garantir
o retorno das coligações proporcionais. Mas como iniciativas que contaram com
um arco de apoio tão amplo poderiam refletir os interesses de uma pequena
minoria?
A rigor, todos os partidos são pequenos ou
nanicos: não há outra democracia na qual os dois maiores partidos têm
apenas 10%
das cadeiras nas assembleias nacionais.
Os parlamentares têm três opções: distritão
(D), volta das coligações (C) e o status quo atual (SQ). Em tese, o distritão
seria first best para 94% dos parlamentares que não alcançaram o quociente
eleitoral e que não teriam mais que montar
chapas com outros partidos.
Seus partidos poderiam utilizar os fundos partidário e de campanha para seus próprios candidatos. Afinal 2/3 das bancadas estaduais são coleções de partidos com no máximo dois representantes. O ordenamento de preferências para esse grupo é D>SQ>C, embora para vários deputados as coligações são preferidas à regra atual (C>SQ).
Embora se beneficie da retórica
antipartido, o distritão está envolto em muita incerteza, o que acaba gerando
resistência. Ademais, para partidos com bancadas maiores (exemplo de PT, PL,
PP), cria problemas severíssimos de coordenação: muito voto e poucas cadeiras.
Mas os deputados preferiram uma reforma com resultados previsíveis e custo
maior a uma alternativa incerta (o distritão), em contextos de turbulência
institucional.
O status quo parece ser a segunda
preferência de muitos parlamentares com votação expressiva os quais podem
sobreviver disputando as sobras mesmo não logrando superar o quociente
eleitoral. Muitos neste grupo preferem esta opção à alternativa de coligar-se,
embora a incerteza aqui também seja alta. O grupo que prevalecer na escolha dos
senadores definirá o resultado, que serão mais sensíveis às demandas coletivas.
O quórum de 3/5 é obstáculo real. Mas não temos como estimar o tamanho relativo
desses grupos.
A regra vigente e o distritão são
rejeitados pelos partidos nanicos e alguns pequenos que não teriam como lograr
representação sem coligações nem como superar a cláusula de barreira mais
elevada para 2022 (2% do eleitorado), que não é objeto de mudanças, e é crítica
para este grupo. A rigor, eles poderão ser os perdedores, e não os vencedores
da reforma.
O terceiro erro é acreditar que caso as
coligações sejam aprovadas voltaremos ao status quo pré-reforma: a persistência
da cláusula terá impacto decisivo no sistema partidário, reduzindo a
fragmentação. E ela não foi objeto de mudança.
*Professor da Universidade Federal de
Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).
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