Folha de S. Paulo
O fator socioeconômico é relevante para a
manutenção dessa prática odiosa que se instalou há séculos na sociedade
Como o racismo criou
o Brasil. A sentença instigante aguçou a curiosidade e me fez assistir a
palestra em forma de aula que o professor, escritor, doutor em sociologia e
pós-doutor em psicanálise e filosofia Jessé
Souza ministrou para lançar seu novo livro.
Entre as muitas reflexões, o palestrante, um homem branco, observou que o racismo assume máscaras que dificultam sua identificação. Para compreender a prática, é preciso considerar que ela está ancorada em estímulos morais que determinam o comportamento social em várias dimensões. “O racismo destrói as pessoas e continua vivo, se fingindo de morto”, disse.
A constatação é impactante e capaz de
denotar o grau de complexidade do problema. Só quem já foi vítima desse crime
sabe o quanto ele é corrosivo, podendo até ser incapacitante. Daí a necessidade
de se contrapor de modo racional —o que, além de difícil, é doloroso.
Há tempos venho me fazendo uma indagação
que ouvi durante a palestra: Como é possível perpetuar por tanto tempo um
sistema que possibilita que um país tão rico como o Brasil reduza a maioria de
sua população à pobreza, relegando grande parte das pessoas a viver o presente
sem dignidade e a olhar para o futuro sem perspectiva de melhora?
Temos hoje cerca de 14,8 milhões de pessoas
desempregadas, número recorde registrado pelo IBGE desde 2012. Com
aproximadamente 30 milhões de brasileiros na informalidade, a precarização das
relações de trabalho é flagrante. Além disso, uma multidão estimada em 19
milhões de pessoas está passando fome.
É uma realidade perturbadora e injusta.
Coisa que extrapola a fronteira da temática racial —visto que, embora a maioria
dos pobres brasileiros seja composta por pessoas negras, nem todo brasileiro
pobre é negro—, mas tem tudo a ver com ela. Afinal, sendo o racismo uma
forma de dominação e de opressão, o fator socioeconômico é relevante para a
manutenção dessa prática odiosa que se instalou há séculos na sociedade.
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