O Estado de S. Paulo.
Ao jogar a toalha antes do tempo, o defensor da terceira via cristaliza o Lula x Bolsonaro
A eleição presidencial deu um salto no fim
do ano e congelou no ar, com Lula confortavelmente na frente, Jair Bolsonaro
mantendo um quarto do eleitorado apesar de tudo, Sérgio Moro em terceiro, mas
sem chegar a dois dígitos, Ciro Gomes entre ser ou não ser e João Doria
estranhamente quieto, fiandose num selo, “pai das vacinas”.
À vontade, Lula parte para investidas
internacionais, discute a sério o nome do (ou da) vice, consolida alianças no
Nordeste e avança no Sudeste, enquanto Bolsonaro atira a esmo e acerta o
próprio pé, ajoelha para o Centrão e afugenta militares, empresários,
banqueiros, grandes produtores rurais...
Quanto mais gente torce para viabilizar uma
opção aos extremos, mais cresce a angústia e dispara a precipitação. Uns dizem:
“O Brasil não merece Lula nem Bolsonaro, mas, se for assim, vou com Lula”.
Outros: “Esse presidente é um doido, mas entre ele e Lula, fico com ele. No Lula,
não voto de jeito nenhum”.
Ou seja: os que mais querem a terceira via são os que cristalizam a polarização entre Lula e Bolsonaro, jogando a toalha, disseminando o mantra de que “não tem jeito” e antecipando o segundo turno.
Afinal, tem jeito? Depende dos candidatos,
das suas campanhas e da competência de cada um para vender seu peixe, além do
principal: as circunstâncias. Neste momento, o fundamental não são nomes, são
perfis. Nem o fulano, nem só princípios, mas que tipo de fulano a população
intui como melhor para reconstruir o País.
Na onda da Lava Jato, 2018 foi o basta!
Contra corrupção, política, políticos conhecidos, status quo. Jair Bolsonaro
foi quem se encaixou nesse perfil. Ele não era absolutamente nada disso, como
veio a confirmar na Presidência, mas o eleitor “não olha para cima”: não vê o
candidato real, vê o personagem inventado para a circunstância.
Em 2022, o mundo é outro, o Brasil é outro,
com pandemia, cambalhota na Lava Jato, desmanche da Saúde, Educação, Ambiente,
Cultura, Política Externa e esgarçamento das relações entre os Poderes e os
entes federativos, mais o troféu de 620 mil mortos e o coroamento de recessão
técnica, inflação, desemprego e fome. E a democracia voltou à agenda.
Esse quadro favorece Lula e é evidentemente
desastroso para Bolsonaro, mas não apaga o mensalão, o assalto à Petrobras, o
fiasco Dilma Rousseff. E, por exemplo, se Bolsonaro meteu a mão nos órgãos de
investigação (PF, Receita, Coaf...), Lula aparelhou os da grana (BNDES, CEF,
agências reguladoras).
Conclusão: vai ter muita lavação de roupa
suja e, quando a máquina esquentar, a imagem de hoje pode descongelar. É cedo
para jogar a toalha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário