Folha de S. Paulo
Ataque a urnas, ao STF, favor para amigos e
loucura antivacina estão no menu
Na semana passada, Jair Bolsonaro voltou
a dizer que
roubaram seus votos em 2018 —sua vitória teria ocorrido no
primeiro turno, caso as eleições fossem "limpas". Voltou a
atacar ministros do Supremo Tribunal Federal. Disse que Alexandre de
Moraes e Luís Barroso são lulistas.
O Bolsonaro freneticamente
golpista de setembro de 2021 volta a botar as asinhas de fora.
O arroz com feijão bolsonarista está no prato —ou, melhor dizendo, o pão com
leite condensado está na mesa. São mais pistas do que deve ser a campanha da
reeleição, sinais visíveis desde a virada do ano de vadiagem e desumanidades.
Parece que Bolsonaro e sua turma querem garantir votos para passar para o
segundo turno e ver o que dá no mata-mata final.
Como? Com favores localizados e loucura generalizada. Quer garantir aqueles eleitores que, depois de tudo, ainda o apoiam, cerca de 25%, o bastante provavelmente para jogar para fora da pista o pessoal da "terceira vida", apesar de dois terços do eleitorado o rejeitarem.
Bolsonaro quer uma medida provisória a fim
de reajustar a tabela do Imposto de Renda, promessa da campanha de 2018. Dá
para fazer, com alguma gambiarra no déficit público. Não vai render lá muito
voto, mesmo isentando de imposto uma meia dúzia de milhão de eleitores. Pode
tentar outros remendos do tipo.
Afora medidas muito alopradas, Bolsonaro
não terá muito mais o que arrumar na frente eleitoral dita
"econômica". O ritmo de crescimento da economia e o da
inflação estão fora do seu controle; na melhor das hipóteses,
teremos estagnação do PIB e taxa de inflação caindo pela metade, mas com um nível de
preços insuportavelmente alto.
O interesse maior é manter vivo ao menos
parte dos fogos dos infernos que o levaram ao poder, em 2018.
Voltou a falar com
frequência da facada. Atacou a lisura do sistema eleitoral,
ressalte-se, cometendo mais crimes. Moraes e Barroso tocam, lentamente, aliás,
os inquéritos sobre essas mentiras, tratadas no Código Penal e na lei do
impeachment.
Chamou os dois de lulistas e mais.
"Quem eles pensam que são? Vão tomar medidas drásticas dessa forma,
ameaçando, cassando liberdades democráticas nossas, a liberdade de expressão.
Porque eles não querem assim, porque eles têm candidato. Os dois, nós sabemos,
são defensores do Lula, querem o Lula presidente", disse.
É um sinal de que vai apelar ainda mais ao
mote de candidato contra o "sistema" que agasalha corruptos e o
impede de governar. É teoria da conspiração com fumaças golpistas.
Bolsonaro também açula sua base mais
fanática com uma dose de reforço de sua campanha contra as vacinas, sabotando a
imunização das crianças e fazendo ataques
injuriosos à Anvisa. É um indício de que vai apelar aos
piores sentimentos e ignorâncias para manter junto de si o que
restou de seu eleitorado.
Sim, piores sentimentos: na sua vadiagem
dezembrina, fez questão de se mostrar indiferente aos sofrimentos de quem
morreu ou perdeu tudo nas enchentes da Bahia.
Na frente política, deu a Ciro
Nogueira mais poder de dirigir para ali ou acolá doces gordos
do Orçamento. Nogueira é ministro da Casa Civil, presidente licenciado do PP,
cardeal, pois, do centrão e deve ser um dos coordenadores de campanha de
Bolsonaro. Vai se pagar palanque com rabichos do Orçamento.
Bolsonaro ainda quer dar um jeito de
reajustar salários de policiais federais até a metade do ano. Não rende voto e,
se houver aumento, vai dar rolo com servidores, talvez contraproducente. Mas
ele quer manter a fidelidade de parte dessa tropa. Para quê?
O arsenal de loucuras pode garantir presença no segundo turno, uma sobrevida para tumultuar a eleição o quanto puder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário