Folha de S. Paulo
Ex-juiz repete Bolsonaro e fala em combater
fantasma da 'sexualização precoce' de crianças
Nenhuma investida de Sergio Moro na corrida
presidencial pareceu tão intensa até aqui quanto a busca pelo voto conservador.
O ex-juiz escalou um advogado evangélico para coordenar essa área da campanha e
se reuniu com mais de 50 líderes religiosos. Na última semana, ele disse que
pretende lutar contra
a "sexualização precoce" de crianças.
Não há candidato que defenda o contrário,
então a promessa de Moro poderia ser encarada como uma proposta vazia para
enfrentar um problema inexistente. Essa plataforma, no entanto, lembra o jogo
sujo que o bolsonarismo explorou para demonizar adversários e assegurar o
domínio do eleitorado conservador.
Em 2018, Jair Bolsonaro transformou a questão num ponto central da campanha. Ele dizia que a esquerda distribuiu na rede pública de ensino um livro infantil que "estimula precocemente as crianças para o sexo". Depois de eleito, usou o tema para esconder os fracassos de seu governo e afirmou ter zerado "aquela sexualização na escola".
O bolsonarismo trabalhou para difundir uma
falsa ameaça que só o capitão poderia combater. Apoiado por influenciadores e
líderes religiosos, inundou as redes sociais com desinformação e ataques à
educação sexual. Sem apresentar nenhum programa consistente, uniu em torno de
sua candidatura cerca de dois terços do eleitorado evangélico, um segmento
notadamente conservador.
Moro parece disposto a buscar um atalho
pelo lamaçal para tomar esses votos de Bolsonaro. Uma maioria significativa
(87%) dos eleitores evangélicos dizem conhecer o ex-juiz, mas só 8% votam nele
no primeiro turno. Segundo o Datafolha, só 5% dos entrevistados desse grupo o
identificam como o candidato "que mais defende os valores da família
tradicional brasileira".
O coordenador da campanha de Moro no eleitorado
evangélico, Uziel Santana, disse que o ex-juiz se apresenta como um
"conservador moderado". Em alguns casos, porém, o candidato caminha
em terreno próximo dos desvarios bolsonaristas.
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