O Estado de S. Paulo.
Confiança traz investimento e bem-estar. E, como, mostra a Dinamarca, traz felicidade
Os pré-candidatos à Presidência da
República João Doria (PSDB) e Sérgio Moro (Podemos) criticaram ontem o
“revogaço petista”, que, como mostrou o Estadão, planeja rever a reforma
trabalhista, as privatizações e o teto de gastos caso o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva volte ao Palácio do Planalto.
“O emprego não voltará ressuscitando leis
ultrapassadas, mas, sim, com crescimento econômico”, disse Doria, em nota. O
“revogaço petista”, afirmou o governador de São Paulo, “vai aumentar o
desemprego e manter a inflação elevada”. “E com desemprego e inflação altos,
quem mais sofre são os mais pobres.”
Moro, por sua vez, comparou sua proposta de reforma com as dos líderes nas pesquisas de intenção de voto: Lula e Jair Bolsonaro (PL). “Há três propostas postas na mesa da pré-campanha presidencial”, escreveu o ex-juiz, no Twitter. “Uma que fará as reformas necessárias ao País (a nossa); outra de um governo que desistiu completamente de implementar reformas (governo atual); e a terceira que quer revogar reformas já consolidadas (PT)”, disse o ex-ministro, que está em viagem pelo Nordeste.
O tucano afirmou que pediu um estudo para o
time de economistas da campanha ao ver o que PT está planejando para o que ele
chama de “pacote do atraso”. Segundo Doria, o estudo será publicado nos
próximos dias. Ontem, o governador se reuniu com a presidenciável do MDB, a
senadora Simone Tebet (MS), em São Paulo, para discutir propostas no plano
econômico.
ESPANHA. Como noticiou o Estadão, o PT
planeja imitar a Espanha, que revogou recentemente a reforma trabalhista feita
em 2012. A revisão da autonomia do Banco Central é uma das outras discussões
que ocorrem entre os petistas. O freio do programa de desestatizações e o fim
do teto de gastos são tratados como consenso dentro da campanha do ex-presidente
Lula.
“É importante que os brasileiros acompanhem
de perto o que está acontecendo na reforma trabalhista da Espanha, onde o
presidente Pedro Sanchez está trabalhando para recuperar direitos dos
trabalhadores”, escreveu Lula nas suas redes sociais.
Uma ala da sigla defende ainda incluir na
lista do “revogaço” a autonomia do Banco Central, aprovado no ano passado pelo
Congresso. Essa discussão, porém, está num estágio menos amadurecido. Nomeado
pelas novas regras, o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem mandato
até 31 de dezembro de 2024.
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Há algo de bom no reino da Dinamarca. Algo
que poderia servir de inspiração para os brasileiros. Não se trata de bem
material. O Brasil nunca será a Dinamarca, até porque os dois países não poderiam
ser mais diferentes. A Dinamarca é rica. O Brasil patina há décadas na tal
“armadilha da renda média”. O Brasil é um país continental. A área da Dinamarca
é menor que a da Paraíba. O Brasil ginga ao som de Anitta e Pablo Vittar. A
Dinamarca segue o baticum tecnológico de When Saints Go Machine e Kasper
Bjorke.
Enquanto nossos melhores cérebros buscam
abrigo fora do Brasil, a Dinamarca os atrai. O urbanista carioca Maurício
Duarte tem 39 anos e vive em Copenhague há sete, trabalhando nos melhores escritórios
de arquitetura da cidade.
No minipodcast da semana, Maurício dá uma
pista sobre o tal bem imaterial que a Dinamarca tem de sobra.
Lá, o governo desempenha um papel que
Maurício chama de “catalisador”. De um lado, ouve a população – e, a partir do
que ouve, desenha políticas públicas. De outro, costura parcerias com a
iniciativa privada. Os investimentos trazem mais empresas, que geram empregos,
que atraem talentos. Os recursos alimentam o estado de bem-estar social, que
garante a todos o mínimo para uma vida digna. Ano após ano, a Dinamarca sobe ao
pódio nos rankings internacionais de felicidade.
É um país onde é possível planejar a longo
prazo. O bairro modelo de Nordhavn, em Copenhague, vem sendo erguido aos
poucos. A previsão é de que fique pronto em 20 anos. “Os contratos entre
empresas, e entre empresas e governos, são sucintos, às vezes não têm mais de
uma página. A Justiça funciona e o poder público costuma honrar seus
compromissos”, diz Maurício.
A palavra-chave – o bem imaterial que nos falta e sobra na Dinamarca – é confiança. Da população no governo, dos investidores na capacidade do poder público em garantir contratos. Em entrevista a José Fucs, do Estadão, o cientista político Antônio Lavareda mostra como tal confiança se perdeu no Brasil. Falta transparência aos governos, como no caso do “orçamento secreto”. Sobram governantes que se dizem “outsiders” e criminalizam a política – e, por tabela, a democracia – como se não fizessem parte dela.
Estamos distantes da Dinamarca, mas poderíamos nos aproximar um pouco se nossos candidatos assumissem um compromisso no ano eleitoral: fazer uma campanha de alto nível, que permitisse recuperar a confiança na política e no País. Confiança traz investimento, empregos, bem-estar – e, como mostram os dinamarqueses, o maior dos bens imateriais: a felicidade.
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