Folha de S. Paulo
Fato raro, reconheci-me numa fala de
Bolsonaro
Fato raro, reconheci-me numa fala de
Bolsonaro. Sim, sou um dos tarados
da vacina. E tenho motivos para sê-lo. Só três conquistas do engenho humano
pouparam, cada uma, no acumulado dos anos, mais de 1 bilhão de vidas. São elas
fertilizantes artificiais, esgotamento sanitário e vacinas. Outros
"milagres" da ciência como antibióticos e a pasteurização salvaram
"apenas" centenas de milhões. A anestesia, sem a qual Bolsonaro não
teria sobrevivido a tantas intervenções cirúrgicas, fica na casa dos milhões.
Se tivéssemos de escolher uma única tecnologia biomédica para conservar para o
futuro, a imunização seria seriíssima candidata.
Ignorância não é crime —ninguém sabe tudo o que há de relevante para saber sobre um assunto—, mas militar em favor dela é. Especialmente o presidente da República precisa informar-se antes de propagar asneiras pelas ondas hertzianas. Não é verdade, por exemplo, que crianças não morrem de Covid-19. Pelas contas do acapachado Ministério da Saúde, até o dia 6 de dezembro, o Brasil registrava 301 óbitos pelo Sars-CoV-2 na faixa dos 5 aos 11 anos.
Essa foi a mais grave, mas nem de longe a
única, tolice proferida por Bolsonaro. E ela basta para implodir o raciocínio
antivacinal do capitão reformado. As vacinas para crianças só foram aprovadas,
no Brasil e em todos os outros países que as homologaram, porque os dados
mostram que os benefícios superam os riscos. É o requisito básico do
licenciamento.
Muito se fala do prejuízo que a internet,
com suas redes sociais, "fake news" e radicalização, traz para a
democracia. Longe de mim contestar isso. Mas há um lado positivo da rede que
não é destacado como deveria. Nunca as pessoas tiveram tanto acesso a fontes
abalizadas. Qualquer cidadão está a poucas teclas dos melhores estudos,
enciclopédias e textos de divulgação.
Basicamente, ninguém precisa ser tão néscio
quanto o presidente da República.
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