PT de Lula deve manter tamanho, PL de Bolsonaro cresce e demais presidenciáveis lutam para não murchar
Danielle Brant, Ranier
Bragon, Renato Machado / Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A janela do
troca-troca partidário na Câmara dos Deputados, que se abrirá no dia 3 de março
e irá até 1º de abril, representará um teste de força dos presidenciáveis da
chamada terceira via, que tentam se desvencilhar do balaio de candidatos com
baixa pontuação nas pesquisas e chegar perto dos dois
mais bem posicionados, o ex-presidente Lula (PT) e o atual presidente, Jair
Bolsonaro (PL).
Um fator primordial moverá os deputados: a
avaliação sobre qual partido lhes dará as melhores condições regionais para
conseguir a reeleição em outubro.
Para isso, é preciso haver uma definição
mais clara sobre quais siglas vão de fato se unir em federações. A nova regra
que permite a união de legendas aumenta a chance de eleição dos candidatos do
bloco, mas exige atuação conjunta nos quatro anos da legislatura.
O PT, de Lula, que tem uma identidade
ideológica mais consolidada, deverá ficar praticamente intacto, saindo dos
atuais 53 deputados para 54, com a volta do deputado Josias Gomes (hoje
secretário de desenvolvimento Rural da Bahia). A sigla é a segunda maior da
Casa.
O PL de Valdemar Costa Neto, que
conseguiu vencer a disputa e filiar Jair Bolsonaro, deverá ser a sigla que
terá o maior crescimento, saindo dos atuais 43 para cerca de 60. Com isso,
poderá ser a maior da Casa a partir de abril.
No pelotão da chamada terceira via, a disputa maior é para não murchar.
Nas pesquisas, Sergio Moro (Podemos) e Ciro
Gomes (PDT) apresentam leve vantagem em relação a nomes como João Doria (PSDB),
Simone Tebet (MDB) e Rodrigo Pacheco (PSD). Até o momento, porém, nenhum dos
partidos desponta como um grande ímã para atrair novos filiados.
Em alguns casos, ocorre, inclusive, um
movimento contrário.
O PSDB de João Doria, por exemplo, rachou
entre o grupo que apoia o presidenciável e governador de São Paulo e aquele que
tenta minar sua candidatura.
Partido que dominou a cena política
nacional na gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e liderou a oposição
nos anos PT, o PSDB vive uma crise sem precedentes.
A bancada corre o risco de perder até 10
dos seus 31 deputados federais. Já indicaram que vão deixar o partido Rose
Modesto (MS), Mara Rocha (AC) e Rodrigo de Castro (MG). Outros nomes também
negociam trocar de legenda.
Parlamentares afirmam que a perspectiva de
"debandada" pode ser amenizada, pois alguns deputados que pretendiam
sair agora esperam resultados de eventuais federações.
A bancada tucana também passou a usar como
estratégia para segurar nomes a antecipação das discussões sobre partilha do
fundo eleitoral entre os candidatos à reeleição em outubro.
Muitos tucanos se agarram à expectativa de
uma federação com o MDB, que é considerada desafiadora —os emedebistas também
conversam com o União
Brasil (fusão de DEM e PSL).
Mais factível se apresenta a federação PSDB
com o Cidadania. Neste sábado (19), o
partido comandado por Roberto Freire decidiu por margem apertada fazer uma
federação com os tucanos, 56 a 47 votos.
Atualmente com 25 deputados, o PDT de Ciro
Gomes deve perder cerca de cinco parlamentares, entre eles Túlio Gadêlha (PE),
que já anunciou que deve ir para a Rede, e Alex Santana (BA). O partido busca a
adesão de outros nomes. Até o momento, conseguiu tirar
David Miranda (RJ) do PSOL.
O Podemos de Sergio Moro é praticamente
nanico na Câmara, com apenas 11 das 513 cadeiras. Seja qual for a movimentação
partidária, ela não deve ser robusta o suficiente para tirá-lo dessa condição.
A tentativa do partido é não encolher, o
que seria um desgaste que se acrescentaria à frustrada expectativa de que o lançamento
da candidatura de Moro e sua filiação levariam o partido a absorver um
contingente expressivo de parlamentares.
Só foi anunciada uma migração para o
partido: a de Kim Kataguiri (SP), que fez a movimentação para acompanhar o
pré-candidato a governador de São Paulo Arthur do Val.
O MDB de Simone Tebet também passou por
encolhimento nas últimas eleições e atualmente tem uma bancada mediana, de 34
parlamentares.
Não há expectativa de que isso mude
substancialmente. A federação com União Brasil ou com PSDB é vista como saída
para aumentar o poder na Câmara e para articular palanques para a senadora.
O PSD do presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco (MG), igualmente não acalenta expectativas de mudanças relevantes em
sua fatia, 35 cadeiras. Uma das baixas do partido deve ser o deputado Éder
Mauro (PA), alinhado ao presidente Jair Bolsonaro.
No entanto o PSD atraiu para suas fileiras
o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), e também deve receber o tucano
Rodrigo de Castro (MG) e Luisa Canziani (PR), cuja desfiliação do PTB deve ser
julgada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta semana.
A própria candidatura de Pacheco não vem
empolgando e o presidente da legenda, Gilberto Kassab, já trabalha com um plano
B, que seria o governador gaúcho Eduardo Leite, atualmente no PSDB.
Já o União Brasil, hoje a maior bancada da
Câmara, com 81 parlamentares, vai encolher após a saída em bloco de
bolsonaristas do PSL rumo ao PL e outras siglas do centrão, devendo ficar com
algo entre 50 e 60 parlamentares.
O partido não tem mais um presidenciável,
após a pré-candidatura do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta perder
tração, e negocia federação com o MDB e, com bem menos perspectivas, com o
PSDB. Também é objeto de desejo de Moro, mas há grandes resistências internas à
adesão à candidatura do ex-juiz.
A situação das bancadas se mostra
semelhante no Senado, com o partido do presidente Jair Bolsonaro devendo ser o
grande vencedor do troca-troca de partidos.
O PL começou a atual legislatura com apenas
dois senadores, número que acabou triplicando. O grande fator de mudança, no
entanto, foi a filiação do chefe do Executivo, que resultou na migração de seu
filho, Flávio Bolsonaro (RJ), do vice-líder do governo Marcos Rogério (RO) e de
Zequinha Marinho (MA).
Devem seguir o mesmo caminho o líder do
governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), Chico Rodrigues (União Brasil-
RR) e Roberto Rocha (PSDB-MA). Com isso, o PL se tornaria a terceira maior
bancada do Senado.
Os senadores não precisam seguir a janela
partidária, podendo trocar de legendas a qualquer momento, sem o risco de perda
de mandato.
As demais migrações que se deram no Senado
nos últimos meses serviram mais para acomodar interesses eleitorais dos
próprios parlamentares, principalmente os que vão tentar se eleger
governadores.
O PT ganhou apenas um senador, Fabiano
Contarato (ES), ex-Rede, que
afirmou neste sábado (19) que disputará o governo do Espírito Santo. O
partido então passou a contar com 7 senadores, sendo a quinta maior bancada.
O MDB de Tebet também teve apenas uma
aquisição nos últimos meses, com Carlos Viana (MG) que deixou o PSD também com
a intenção de disputar o governo de seu estado.
Assim como também aconteceu na Câmara dos
Deputados, a filiação do ex-juiz Sergio Moro não provocou grande impacto na
bancada do Podemos, que permaneceu do mesmo tamanho, com nove senadores.
EXPECTATIVA DAS LEGENDAS PARA JANELA DE
TROCA PARTIDÁRIA NA CÂMARA
PL
Com a filiação de Jair Bolsonaro, deve ser a sigla com maior crescimento,
saindo de 43 para cerca de 60 deputados
PT
Deverá ficar praticamente intacto, saindo dos atuais 53 deputados para 54
MDB
Com 34 deputados, não espera mudar significativamente de tamanho
PSD
Não espera ter mudança significativa de tamanho em sua bancada de 35 deputados
Podemos
Com 11 deputados, espera não encolher. Única adesão anunciada é a de Kim
Kataguiri (SP)
PDT
Deve perder cerca de 5 deputados dos atuais 25 que compõem a bancada
PSDB
Rachado sobre a candidatura de João Doria, corre o risco de perder até 10 dos
seus 31 deputados
União Brasil
Maior bancada da Câmara com 81 parlamentares, deve encolher com a saída de
bolsonaristas e ficar com algo entre 50 e 60 deputados
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