Sigla deve retirar pré-candidatura de Alessandro Vieira
Por Andrea Jubé / Valor Econômico
BRASÍLIA - O Cidadania aprovou, no último
sábado, em reunião virtual do diretório nacional, a formação de uma federação
partidária com o PSDB. Embora o partido ainda mantenha o nome do senador
Alessandro Vieira (SE) como pré-candidato à Presidência, a tendência é a
retirada do parlamentar da disputa, e o apoio do Cidadania à postulação do
governador de São Paulo, João Doria (PSDB), na corrida pelo Palácio do
Planalto.
Nessa nova configuração de forças, aumentam
as chances da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), nova líder da bancada
feminina no Senado, ser indicada para compor a chapa majoritária na vaga de
vice de Doria.
Ao Valor, Eliziane comemorou a opção do Cidadania pelo
casamento com os tucanos: “A federação com o PSDB é um grande passo para a
construção de uma grande frente democrática, que possa quebrar a polarização
entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
A senadora acrescentou que será preciso
“juntar mais partidos nessa federação”, para ser possível unificar o campo da
terceira via. Em paralelo, o PSDB também busca atrair o União Brasil e o MDB
para a federação.
Antes da confirmação da federação entre PSDB e Cidadania, o diálogo entre Doria e Eliziane já estava avançado. Há cerca de duas semanas, ela foi recebida pelo governador no Palácio dos Bandeirantes, e até acompanhou uma reunião do secretariado paulista.
Eliziane disse ao Valor que a terceira via
precisa chegar a um nome de consenso que alcance competitividade e apelo
eleitoral. “Precisamos de uma única candidatura do campo democrático, que tenha
capilaridade para furar a bolha da polarização, senão vamos chegar ao segundo
turno como ocorreu em 2018, uns [eleitores] se abstendo, outros deixando de
votar, proporcionando a continuidade desse governo que está aí”, completou.
Eliziane entrou no radar do PSDB para
dividir a chapa com Doria pelo conjunto de atributos: é mulher, representante
de um Estado do Nordeste, é evangélica - filha de um pastor e de uma
missionária da igreja Assembleia de Deus -, e também se projetou como renovação
na política. Em 2018, conquistou a vaga de senadora impondo derrota aos
postulantes do clã Sarney: o ex-ministro Sarney Filho (PV) e o ex-senador
Edison Lobão (MDB).
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), as mulheres representam 52% do eleitorado. Já os evangélicos
correspondem a 31% da população, segundo levantamento do Instituto Datafolha em
2020.
Eleita com apoio dos evangélicos, Eliziane
acusa Bolsonaro de deturpar a imagem dos evangélicos, e adotar uma postura
promíscua com o segmento em troca de votos. “A instrumentalização da fé coloca
os evangélicos numa vala comum, e estimula uma discriminação”, afirmou. A
senadora diz que a relação dos evangélicos com os espaços de poder
"precisa acontecer, mas tem que ser saudável, não com promiscuidade como a
gente tem visto infelizmente, inclusive por esse governo".
Segundo Eliziane, o presidente Bolsonaro,
visando ao voto do segmento, tenta criar a imagem de alguém que faz tudo pelo
Evangelho de Cristo, quando a postura dele representaria o oposto: “não é nada
disso, o Evangelho de Cristo não é armamentista, não é a favor da morte".
Há dez dias, ela sucedeu a senadora Simone
Tebet (MS), presidenciável do MDB, na liderança da bancada feminina do Senado,
num momento de protagonismo das senadoras, que ganharam holofotes após a
atuação combativa na CPI da Covid.
Nesta terça-feira, Eliziane, a líder da
bancada de deputadas, Celina Leão (PP-DF), e a procuradora da Mulher, deputada
Tereza Nelma (PSDB-AL), reúnem-se com o presidente da câmara, Arthur Lira
(PP-AL), com um pacote de demandas.
Um dos pleitos principais é a votação
urgente o projeto que estabeleceu uma multa para empresas que pagarem salários
diferentes para homens e mulheres que exercerem a mesma função.
A matéria havia sido enviada à sanção em
março do ano passado, mas Lira requisitou ao Planalto a devolução do texto,
alegando que o Senado fez alterações de mérito. Eliziane pontua que foram
modificações de redação, que autorizariam a sanção.
Ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), o pleito considerado prioritário, que já tem o consenso das
senadoras, é a reivindicação para que ele faça gestões junto ao Planalto, a fim
de que o Executivo encaminhe à Casa a Convenção 190 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), que prevê a erradicação do assédio às mulheres
no ambiente de trabalho. O Brasil ainda não é signatário da norma. Eliziane
está articulando um almoço das senadoras com Pacheco para apresentar uma lista
de demandas. (Colaborou
João Valadares)
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