segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Federação com PSDB pode levar senadora à vice de Doria

Sigla deve retirar pré-candidatura de Alessandro Vieira

Por Andrea Jubé  / Valor Econômico

BRASÍLIA - O Cidadania aprovou, no último sábado, em reunião virtual do diretório nacional, a formação de uma federação partidária com o PSDB. Embora o partido ainda mantenha o nome do senador Alessandro Vieira (SE) como pré-candidato à Presidência, a tendência é a retirada do parlamentar da disputa, e o apoio do Cidadania à postulação do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), na corrida pelo Palácio do Planalto.

Nessa nova configuração de forças, aumentam as chances da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), nova líder da bancada feminina no Senado, ser indicada para compor a chapa majoritária na vaga de vice de Doria.

Ao Valor, Eliziane comemorou a opção do Cidadania pelo casamento com os tucanos: “A federação com o PSDB é um grande passo para a construção de uma grande frente democrática, que possa quebrar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.

A senadora acrescentou que será preciso “juntar mais partidos nessa federação”, para ser possível unificar o campo da terceira via. Em paralelo, o PSDB também busca atrair o União Brasil e o MDB para a federação.

Antes da confirmação da federação entre PSDB e Cidadania, o diálogo entre Doria e Eliziane já estava avançado. Há cerca de duas semanas, ela foi recebida pelo governador no Palácio dos Bandeirantes, e até acompanhou uma reunião do secretariado paulista.

Eliziane disse ao Valor que a terceira via precisa chegar a um nome de consenso que alcance competitividade e apelo eleitoral. “Precisamos de uma única candidatura do campo democrático, que tenha capilaridade para furar a bolha da polarização, senão vamos chegar ao segundo turno como ocorreu em 2018, uns [eleitores] se abstendo, outros deixando de votar, proporcionando a continuidade desse governo que está aí”, completou.

Eliziane entrou no radar do PSDB para dividir a chapa com Doria pelo conjunto de atributos: é mulher, representante de um Estado do Nordeste, é evangélica - filha de um pastor e de uma missionária da igreja Assembleia de Deus -, e também se projetou como renovação na política. Em 2018, conquistou a vaga de senadora impondo derrota aos postulantes do clã Sarney: o ex-ministro Sarney Filho (PV) e o ex-senador Edison Lobão (MDB).

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as mulheres representam 52% do eleitorado. Já os evangélicos correspondem a 31% da população, segundo levantamento do Instituto Datafolha em 2020.

Eleita com apoio dos evangélicos, Eliziane acusa Bolsonaro de deturpar a imagem dos evangélicos, e adotar uma postura promíscua com o segmento em troca de votos. “A instrumentalização da fé coloca os evangélicos numa vala comum, e estimula uma discriminação”, afirmou. A senadora diz que a relação dos evangélicos com os espaços de poder "precisa acontecer, mas tem que ser saudável, não com promiscuidade como a gente tem visto infelizmente, inclusive por esse governo".

Segundo Eliziane, o presidente Bolsonaro, visando ao voto do segmento, tenta criar a imagem de alguém que faz tudo pelo Evangelho de Cristo, quando a postura dele representaria o oposto: “não é nada disso, o Evangelho de Cristo não é armamentista, não é a favor da morte".

Há dez dias, ela sucedeu a senadora Simone Tebet (MS), presidenciável do MDB, na liderança da bancada feminina do Senado, num momento de protagonismo das senadoras, que ganharam holofotes após a atuação combativa na CPI da Covid.

Nesta terça-feira, Eliziane, a líder da bancada de deputadas, Celina Leão (PP-DF), e a procuradora da Mulher, deputada Tereza Nelma (PSDB-AL), reúnem-se com o presidente da câmara, Arthur Lira (PP-AL), com um pacote de demandas.

Um dos pleitos principais é a votação urgente o projeto que estabeleceu uma multa para empresas que pagarem salários diferentes para homens e mulheres que exercerem a mesma função.

A matéria havia sido enviada à sanção em março do ano passado, mas Lira requisitou ao Planalto a devolução do texto, alegando que o Senado fez alterações de mérito. Eliziane pontua que foram modificações de redação, que autorizariam a sanção.

Ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o pleito considerado prioritário, que já tem o consenso das senadoras, é a reivindicação para que ele faça gestões junto ao Planalto, a fim de que o Executivo encaminhe à Casa a Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que prevê a erradicação do assédio às mulheres no ambiente de trabalho. O Brasil ainda não é signatário da norma. Eliziane está articulando um almoço das senadoras com Pacheco para apresentar uma lista de demandas. (Colaborou João Valadares)

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