Valor Econômico
Quem melhor otimizar as ações de
recuperação econômica, já com um olhar prospectivo, se sairá melhor da crise
As economias da América Latina e Caribe
(ALC) estão perdendo fôlego após uma forte retomada no ano passado.
Impulsionado pela recuperação dos principais parceiros comerciais, aumento dos
preços das commodities e pelas condições favoráveis de financiamento externo,
estima-se que o crescimento na região tenha sido de cerca de 7% em 2021. Os
avanços na vacinação e medidas de apoio fiscal também ajudam a explicar aquele
crescimento.
Mas estimavas recentes indicam que o crescimento em 2022 cairá para 2,5% ou menos, refletindo a perda de fôlego da economia chinesa, rupturas nas cadeias de suprimentos, elevação da inflação, emergência da variante ômicron, novas incertezas quanto ao fim da pandemia, o eventual aperto da política monetária nos Estados Unidos, dentre outros fatores, incluindo os específicos de cada país.
Em vista disto, e considerando o aumento da
pobreza e da desigualdade na região nos últimos anos, as autoridades terão que
elaborar estratégias de recuperação econômica que promovam a volta rápida do
crescimento. Mas que políticas públicas os governos deveriam implementar?
A esta altura em que o espaço fiscal já
está bastante limitado em vários países da região em razão das políticas
anticíclicas, a chave será mirar atividades privadas que combinem elevado
retorno econômico com elevado retorno social e que sejam capazes de dar
resultados em prazos relativamente curtos e a custos relativamente baixos de
forma a pavimentar um ciclo virtuoso de crescimento.
Com esse propósito, as políticas poderiam
mirar mercados relativamente novos, que têm menos amarras e rigidezes próprios
de mercados já maduros, concentrados e segmentados, novos modelos de negócios e
atividades inovadoras e em rápida ascensão, bem como atividades com cadeias
locais de valor potencialmente longas, atividades mais resilientes e atividades
que tenham maior potencial de atração de investimentos e de inserção em cadeias
globais de valor. De fato, programas de recuperação econômica são uma oportunidade
para que governos e setor privado possam redirecionar esforços em favor de
setores de alto potencial de crescimento com uma visão pragmática e com foco em
sustentabilidade.
O leque de atividades varia de acordo com o
país, mas é possível mencionar algumas que têm alcance regional ou
sub-regional. Considere, para iniciar, o mercado de carbono. A região tem o
mais elevado potencial para oferecer soluções baseadas na natureza num mercado
que se estima chegará à casa dos trilhões de dólares. Países da região
amazônica, por exemplo, têm diante de si enormes oportunidades para participar
daqueles mercados com protagonismo, promovendo um sem número de projetos,
participando do desenvolvimento de novas soluções e tecnologias e atraindo
recursos e investimentos de alta qualidade e de longo prazo de maturação. Para
avançar, será necessário garantir a integridade dos créditos, fortalecer as
cadeias de valor internas e garantir um pipeline de projetos.
Pense, agora, nas oportunidades do comércio
eletrônico e da digitalização. O e-commerce, que já vem crescendo rapidamente,
poderá crescer ainda mais com reformas legais e normativas que simplifiquem e
viabilizem o comércio transfronteiriço e sistematizem e harmonizem
procedimentos, bem como promovam infraestruturas físicas e não físicas que
facilitem o aumento do comércio e atraiam investimentos. Já a digitalização de
empresas permitirá maior acesso a mercados, redução de custos e uso de
ferramentas tecnológicas avançadas que, ao fim e ao cabo, contribuirão para
explorar o imenso potencial associado ao “copo meio vazio” da baixa
produtividade.
Pense, também, nas oportunidades do
nearshoring, qual seja, o traslado para países da região com custos baixos de
mão de obra e outras condições favoráveis de empresas americanas operando
especialmente desde a Ásia e voltados para os mercados americanos, movimento
que beneficiaria notadamente os países da América Central e Caribe.
Mas para aproveitar o imenso potencial de
entrada no maior mercado do mundo seriam necessários regimes especiais de
promoção de investimentos e exportação, simplificação burocrática, harmonização
regulatória, investimentos logísticos, ajustes normativos de regras de origem,
regulação para a relação entre zonas francas e o território aduaneiro nacional,
dentre outros que possam dar vazão à formação de competências, geração de
muitos empregos formais e novos negócios.
Uma outra oportunidade é a formação e o
fortalecimento de cadeias de valor de alimentos processados e de cadeias de
valor de minerais como, por exemplo, o lítio para uso no crescente mercado de
baterias. Trata-se de industrializar commodities a partir de vantagens
comparativas e competitivas já presentes na região. Para tanto, seriam
necessários ajustes regulatórios e tributários, investimentos logísticos, apoio
à provisão de serviços técnicos especializados, dentre outros elos da cadeia de
valor.
Finalmente, considere atividades associadas
à economia criativa, como entretenimento, arte e design, bem como atividades de
atenção pessoal, como saúde, serviços de bem-estar e estilo de vida. Trata-se
de ocupações que requerem muitas qualificações profissionais e talentos que
abundam na região, são personalizados e pouco ou nada automatizáveis e,
portanto, têm alto impacto potencial na geração de emprego e renda. Para tanto,
requer-se o desenvolvimento e o aprimoramento institucional de aspectos direta
ou indiretamente envolvidos com os mercados, melhoria da governança e
coordenação de políticas e atores, de tal forma a dar vazão às atividades e à formação
e expansão de mercados.
Embora cada um dos exemplos acima requeira
políticas e medidas específicas, algumas são de alcance transversal, como
capacitação, apoio a empreendedorismo e à internacionalização de empresas e
medidas que apoiem o investimento e o fortalecimento de empresas novas com alto
potencial competitivo e de mercado, incluindo programas financeiros e
aceleradores direcionados a negócios. Os países que melhor souberem otimizar e
potencializar as ações de recuperação econômica já com um olhar prospectivo se
sairão melhor da crise, gerarão mais empregos e, provavelmente, crescerão de
forma mais sustentada.
*Jorge Arbache é vice-presidente de setor privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF)
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