O Globo
Ainda que Jair Bolsonaro perca as eleições, hipótese hoje bastante plausível, de acordo com as pesquisas, o bolsonarismo como força política permanecerá. Não com a conformação de hoje, tendo o Centrão a ele acoplado como um ser parasitário, mas como um balaio de reacionários, ressentidos, negacionistas e teóricos da conspiração de todos os matizes, com mandatos e com voz nas redes sociais e nos veículos alternativos de mídia que vicejaram nesse período de governo.
É esta a campanha paralela que começa a
ganhar contornos e que deve ser objeto de atenção da imprensa, pois, ainda que
Bolsonaro seja derrotado, haverá uma bancada ruidosa que terá o capitão e os
filhos como gurus seja quem for o próximo presidente.
A radicalização de ministros como Marcelo
Queiroga e Damares Alves já mira esse futuro, e vale para a hipótese de
Bolsonaro ser ou não reeleito.
A ministra que é a antítese de tudo que sua
pasta deveria representar tem investido sem receio do Ministério Público numa
agenda cada vez mais sectária, e especificamente antivacina.
Ela segue a picada aberta pelo chefe, mas conta com seu próprio público, que vem sendo cuidadosamente cultivado nos últimos três anos. Os “damaristas" são uma bolha fiel e dedicada dentro do guarda-chuva do bolsolavismo. E é por isso que uma candidatura dela ao Senado é considerada bastante promissora, a depender do Estado que ela escolha para fincar seu domicílio eleitoral.
Formar uma bancada no Senado tem sido a
tecla na qual Bolsonaro mais bate quando projeta seus planos para um eventual
segundo mandato. Ele sabe que foi na Casa que representa a federação, além do
Supremo Tribunal Federal, que sua pauta armamentista e anti-direitos e minorias
foi brecada. Se fosse depender da Câmara, sobretudo depois que Arthur Lira
assumiu, ela teria tido um campo mais fértil para prosperar.
Também está nos planos do grupo manter uma
bancada numerosa e atuante de deputados federais. Se o grupo perdeu nomes como
Joice Hasselman e Alexandre Frota, a ideia é jogar todo o peso do apoio de
Bolsonaro, considerado ainda importante, em nomes-chave para manter o movimento
vivo ainda — e talvez principalmente nessa condição — que seja para fazer
oposição ruidosa a Lula ou a quem seja eleito, clamando por impeachment no dia
1 do mandato.
Também pesa a favor dessa preocupação de
eleger “os nossos”, como definiu um aliado a percepção, cada vez mais presente
na família e no entorno do presidente, de que haverá uma tentativa de prendê-lo
caso ele fique sem mandato.
Seria o exército barulhento no Congresso,
nas Assembleias e na internet aquele a ser mobilizado para ir às ruas e repetir
os atos com ameaças às instituições para defender o “mito" dessa esperada
caçada judicial que ele enfrentará para que seja responsabilizado, por exemplo,
pelos atos cometidos por seu governo no curso da pandemia.
Bolsonaro já admitiu que haverá uma revoada
de ministros e sua substituição por ocupantes-tampão. Governar há muito deixou
de ser o objetivo principal do presidente e dos que o cercam. A eleição é o
foco, com interesses cada vez mais particulares dos vários grupos que compõem
um governo nada coeso e orgânico.
Um comentário:
Verdade,o bolsonarismo permanecerá,mesmo o chefe perdendo o cargo.
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