sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Rogério Furquim Werneck: Que Lula é esse?

O Globo

Lula prefere ser vago ao se mostrar disposto a se mover para o centro. O melhor exemplo é o minueto que insiste em dançar com Alckmin

Tudo indica que Lula pretende levar sua campanha tão longe quanto possível, sem se comprometer com um delineamento mais nítido do que seria a política econômica do seu governo. Se lhe for possível, irá até o final do segundo turno sem se definir quanto a isso.

Lula sabe perfeitamente que caso sua candidatura se realinhe mais ao centro do espectro político, sua vitória se tornará mais provável. E é bem possível que, há alguns meses, se tenha convencido de que um movimento inequívoco para o centro seria essencial para assegurar sua eleição. Mas já não parece tão certo disso.

Seu desempenho nas pesquisas de intenção de votos lhe tem sido tão favorável, que o ex-presidente pode estar inclinado a, desta vez, tentar a vitória sem se mover tão explicitamente para o centro. Pelo menos no que diz respeito ao delineamento da política econômica que seria adotada caso viesse a ser eleito.

Lula parece ter clara preferência por demonstrações mais vagas e menos comprometedoras de sua suposta disposição de se mover para o centro. O melhor exemplo é o interminável minueto que vem insistindo em dançar com Geraldo Alckmin, para atraí-lo para a chapa presidencial petista.

É bem possível que esse minueto ainda perdure por meses sem que haja um desfecho. E nem mesmo se sabe se a proposta é, de fato, para valer. Mas Lula não tem pressa. O tempo trabalha a seu favor. O minueto com Alckmin é o que lhe basta, por enquanto, como evidência de que, ao contrário do que poderia parecer, o candidato petista continua disposto a se mover para o centro.

Que implicações a escolha de Alckmin terá para a condução da política econômica, caso Lula seja eleito? Ninguém sabe. Ter tido Temer como vice, em 2010 e 2014, não impediu que Dilma Rousseff fizesse o que fez.

Há poucos dias, ninguém menos do que o ex-ministro Guido Mantega saiu do seu caminho para esclarecer que “Lula terá muitas alianças políticas, você não pode governar sozinho”. E que “depois que o grupo de partidos estiver confirmado, você vai começar a discutir um programa que tem que ser aceito por todos, não pode ser um programa imposto pelo PT”. (Bloomberg, 1/2)

De novo, não custa lembrar que a coligação de dez partidos que elegeu Dilma, em 2010, e a de nove agremiações que a reelegeu, em 2014, não impediram o desatino que depois se viu.

Para que a suposta disposição de Lula de se mover para o centro seja levada a sério, o candidato terá de delinear com clareza a política econômica que adotaria caso fosse, afinal, eleito.

O problema é que a cúpula do PT continua embevecida por ideias econômicas completamente equivocadas. Não houve renovação na liderança do partido. Até mesmo porque, na esteira da Lava-Jato, quando as evidências levantadas contra ele e o PT se tornaram mais constrangedoras, Lula acabou dando força aos que se mostraram mais fiéis.

Envelhecida como está, a cúpula do partido parece hoje ainda mais resistente a reconhecer erros passados. E menos disposta a arejar seu entendimento das possibilidades de condução da política econômica, nesse quadro tão difícil que o país continua a enfrentar.

Tampouco ajuda a cega postura revanchista, de boa parte do partido, de pregar o desmantelamento de tudo que remotamente tiver sido concebido e implantado pelo governo Temer para lidar com o descalabro que lhe deixou a antecessora.

Mas não falta agora quem se esforce para se convencer de que Lula está muito acima de todas essas mazelas do PT. Pouco importa que tenha dado tanta força a gente tão retrógrada, mostrado ostensiva simpatia por propostas estapafúrdias de política econômica e jamais disfarçado a extensão da sua amargura e do seu revanchismo, diante do que ele e o PT tiveram de enfrentar.

A fantasia que se dissemina é que, ainda assim, o ex-presidente estaria determinado a adotar uma política econômica coerente e realista, pautada por sólido bom senso, caso venha a ser reeleito.

Por enquanto, até que Lula se disponha a delinear seu programa econômico, não é o que parece mais provável.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Não acho que a Dilma fez tanta lambança não,lambança tá fazendo Bolsonaro.