O Globo
O reinado de Severino Cavalcanti ficou
marcado por uma frase célebre. Ao assumir a presidência da Câmara, o deputado
exigiu sua parte na Petrobras. Queria a diretoria que “fura poço e acha
petróleo”.
Hoje as ambições de Severino seriam
consideradas modestas. O herdeiro de sua cadeira, Arthur Lira, não se interessa
por cargos de segundo escalão. Prefere escolher logo o presidente da estatal.
O deputado era entusiasta da indicação de
Adriano Pires. Apesar do padrinho influente, o consultor caiu antes de tomar
posse. O governo já virou a página, mas Lira ainda parece estar na fase da
negação.
Na segunda-feira, o chefe do Centrão
esbravejou contra a derrubada de Pires. Disse que ele foi vítima de “falso
moralismo” e “julgamento precipitado”. “Tem que pegar um arcebispo para ser
diretor da Petrobras?”, ironizou.
Ontem o deputado continuou enfezado.
Reclamou da Lei das Estatais e disse que a Petrobras “causa inconveniente para
todo o país”. Acrescentou que a empresa não teria “responsabilidade com o
Brasil nem com ninguém”.
Lira imitou Jair Bolsonaro: ao ter seus interesses contrariados, passou a defender a privatização da Petrobras. O capitão nunca foi um adepto da ideia. No passado, chegou a defender o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso após a venda da Telebrás.
A lei não exige que os dirigentes da
Petrobras sejam arcebispos. Basta que não tenham ligações com concorrentes da
estatal. Pires foi derrubado por um caso clássico de conflito de interesses.
Passou as últimas décadas a serviço de competidores da empresa.
O consultor se recusou a revelar sua
carteira de clientes. E ainda tentou manter os negócios abertos em nome do
filho, o que é expressamente proibido pela Lei das Estatais.
Além de atender gigantes estrangeiras,
Pires fez lobby para as distribuidoras de gás de Carlos Suarez. O empresário
cultiva relações próximas com o Centrão. Foi apontado como o principal
beneficiário dos jabutis que aliados de Lira incluíram na MP da Eletrobrás.
Severino era um amador. Caiu por cobrar um
“mensalinho” de R$ 60 mil do dono do restaurante da Câmara. Lira é um
profissional. Depois de comandar o orçamento secreto, que drenou R$ 16 bilhões
apenas no ano passado, queria mandar na maior empresa do país.
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